O estreito nexo entre erro e verdade nasce de que um erro puro e acabado é inconcebível e, por ser inconcebível, não existe. O erro fala com dupla voz, uma das quais afirma o falso, enquanto a outra o desmente; e é um choque de sins e de nãos, que se chama contradição. Por isso, quando, deixando as considerações genéricas, se desce a examinar em suas partes e no que tem de determinado uma teoria que se condenou como errônea, encontra-se nela mesma o remédio de seu caráter errôneo, isto é, a teoria verdadeira que germina do solo do erro. E observa-se que os mesmos que têm a pretensão de reduzir a arte ao instinto sexual recorrem, para demonstrar sua tese, a argumentos e mediações com os quais separam a arte do instinto, em vez de uni-los; ou que aquele que bania a poesia das repúblicas bem construídas tremia com o banimento e criava ele próprio, naquele ato, uma nova e sublime poesia. Houve períodos históricos nos quais predominaram as mais tortuosas e rudimentares doutrinas da arte. E isso não impedia, mesmo naqueles tempos, que se discemisse normalmente, da maneira mais segura, o belo do feio, e que se discorresse sobre isso com bastante agudeza quando, esquecida a teoria abstrata, se passava aos casos particulares. O erro é sempre condenado, não pela boca do juiz, mas ex ore suo.
Por esse estreito nexo com o erro, a afirmação da verdade é sempre um processo de luta, pelo qual ela se vai libertando do erro no erro; pelo que é um outro desejo piedoso mas irrealizável, o de querer que ela seja exposta diretamente, sem discutir ou polemizar, deixando que ela caminhe majestosa e só; como se essas encenações teatrais fossem o símbolo apropriado para a verdade, que é o próprio pensamento, e como pensamento, sempre ativo e em trabalho.
continua na próxima postagem......
Texto extraído de "Caderno de Sábado" de -Jornal da Tarde-
Data: - 24-5-97 -
O Jornal da Tarde pertencia ao jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO"
Nenhum comentário:
Postar um comentário