É somente nisso, portanto, que se pode colocar o orgulho do filósofo: na consciência da maior intensidade de suas perguntas; orgulho que não se deve separar da modéstia, isto é, do reconhecimento de que, embora seu âmbito seja mais amplo, ou o mais amplo possível num determinado momento, tem ainda assim seus limites, traçados pela história daquele momento, e não pode aspirar a um valor de totalidade ou, como se costuma dizer, de solução definitiva. A vida posterior do espírito, renovando e multiplicando os problemas, toma não falsas mas inadequadas as soluções que precederam, parte das quais cai no rol das verdades que se subentendem, e parte precisa ser retomada e integrada. Um sistema é uma casa que, recém-construída e enfeitada, carece de um trabalho mais ou menos enérgico mas assíduo de manutenção e que, num determinado momento, já não adianta restaurar e escorar, sendo preciso derrubá-la e reconstruí-la desde os alicerces. Mas com esta diferença capital: que na obra do pensamento, a casa sempre nova é sustentada sempre pela antiga, a qual, como por obra de magia, perdura nela. Como se sabe, os ignaros dessa magia, os intelectos superficiais ou ingênuos se espantam com isso, a ponto de que um de seus enfadonhos refrães contra a filosofia é que ela desmancha continuamente sua própria obra e que um filósofo contradiz o outro: como se o homem não fizesse, desfizesse e refizesse continuamente suas casas, e o arquiteto seguinte não fosse o contraditor do arquiteto precedente; e como se desse fazer-se, desfazer-se e refazer-se das casas e desse contradizer-se dos arquitetos se pudesse tirar a conclusão de que é inútil construir casas!
continua na próxima postagem.....
Texto extraído de "Caderno de Sábado" de "Jornal da Tarde"
Data: Sábado - 24-5-97.
Jornal da Tarde pertencia ao "O Estado de São Paulo"
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Data: Sábado - 24-5-97.
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