LXVIII
(Carranca de Proa)
A MENINA de madeira não chegou caminhando:
ali esteve de súbito sentada nos ladrilhos,
velhas flores do mar cobriam sua cabeça,
seu olhar tinha tristeza de raízes.
Ali ficou olhando nossas vidas abertas,
o ir e ser e andar e voltar pela terra.
o dia descolorindo suas pétalas graduais.
Vigiava sem ver-nos a menina de madeira.
A menina coroada pelas antigas ondas
ali fitava com seus olhos derrotados:
sabia que vivemos numa rede remota
do tempo e água e ondas e sons e chuva,
sem saber se existimos ou se somos seu sonho.
Esta é a história da moça de madeira.
Poesia extraída do livro:
CEM SONETOS DE AMOR
de Plabo Neruda
(Prêmio Nobel de Literatura)
Tradução de CARLOS NEJAR
L&PM POCKET
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