Com a vantagem da maior intensidade, as perguntas e respostas do filósofo trazem consigo também o perigo do erro maior, e sofrem às vezes do vício de uma espécie de falta de bom senso que, por pertencer a uma esfera superior da cultura, tem, mesmo em sua censurabilidade, um caráter aristocrático, alvo não só de desprezo e troça mas também de secreta admiração e inveja. Fundamenta-se nisso o contraste, que muitos se comprazem em apontar, entre o equilíbrio mental das pessoas comuns e as extravagâncias dos filósofos, claro estando que nenhum homem de bom senso teria dito, por exemplo, que a arte é o eco do instinto sexual, ou que ela é coisa maléfica, merecendo ser banida das repúblicas bem governadas: absurdos que foram efetivamente ditos por filósofos, e grandes filósofos. Mas a inocência do homem de bom senso é pobreza, a inocência própria de selvagens; e embora se tenha frequentemente suspirado pela vida inocente do selvagem, ou clamado por um abrigo para proteger o bom senso contra as filosofias, o fato é que o espírito, ao desenvolver-se enfrenta corajosamente - porque não pode deixar de fazê-lo - os perigos da civilização e a perda momentânea do bom senso. A busca do filósofo acerca da arte precisa percorrer os caminhos do erro para reencontrar os caminhos da verdade, que são distintos dos primeiros, mas são aqueles mesmos, atravessados por um fio que permite dominar o labirinto.
continua na próxima postagem.......
Texto extraído de "Caderno de Sábado" - Jornal da Tarde -
Data: 24-5-97
O Jornal da Tarde pertencia ao "O ESTADO DE SÃO PAULO"
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