domingo, 17 de agosto de 2014

Por que Sócrates por que Platão (02)

continuação...
No fundo, a acusação que fizeram a Sócrates de corromper a juventude não passava do rancor que as pessoas tinham por alguém que não tentava torna-los melhores.
    Se desconfio de uma política platônica (o filósofo não foi muito inspirado quando esteve junto do tirano Dionísio, que passou Siracusa a ferro e fogo), desejo um pouco mais do espírito socrático nas coisas públicas. Considero, talvez de forma um tanto ingênua, que política tem a ver com pensamento e, no lugar do preceito de Santo Agostinho, "Ama e faz o que quiseres", coloca o exemplo platônico: "Pensa e age como melhor te parecer". Mas como é que um pensamento que "só se preocupa com ausências e afasta tudo o que está próximo e presente" (Hannah Arendt) pode perceber "aquilo que é", ou seja, o Estado (é esse sentido primário dessa palavra), a cidade? Colocando no centro da política o respeito pelas palavras, a força do desejo e o apelo ao ideal.
     O sentido das palavras. Em nossa campanhas políticas, há trocas de palavras, discursos, debates, mas não diálogos. Diálogos, em grego, significa "viagem entre as palavras". É a primeira coisa que Sócrates nos ensina: "A quase impossibilidade em que as pessoas se encontram de definir, a respeito de um assunto que se decidiram debater, os termos que serão usados pelos dois campos, conseguindo assim se ensinar mutuamente alguma coisa, a si mesmos e aos outros."
     A lei do desejo. Foi observado e elogiado o fato de o atual primeiro-ministro francês ter colocado em primeiro plano dois princípios que Platão não teria renegado: dizer o que se vai fazer, e fazer o que se disse. Pois faça um esforçozinho a mais, sr. Jospin , para ser Socrático!.
                                                                             continua na próxima postagem
 
Texto retirado do: Caderno de Sábado JORNAL DA TARDE-5
Sábado - 21-2-98
Jornal da Tarde pertencia ao "O Estado de São Paulo"
 

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