É por exigência atemporal de que
de que a gente pense que
Platão se torna atual. É por
seu não-engajamento que
Sócrates se mantém engajado
As questões políticas são também questões de desejo (saber o que quer) e questões de realidades (fazer o que é necessário). Embora seja para ela uma condição necessária mas não suficiente, a moral nunca tomou o lugar da política. O homem político articula com a realidade não apenas as suas palavras e atos, mas também o seu desejo.
O lugar dos ideais, finalmente. É claro que se pode analisar o problema de nossos subúrbios ou da imigração sem nunca ter lido o Timeu o Parmênides. O pensamento de Platão não contribui com grande coisa para a sociedade, não cria valores, não nos fornece modos de ação. Mas, para pensar sobre o problema criado pela ocupação da igreja de São Bernardo por imigrantes, há dois anos, em Paris, a leitura do Górgias foi mais útil para mim do que a dos cineastas politicamente comprometidos. Imaginemos Platão às voltas com esse caso e procurando aquilo que é justo. Para começar, ele teria insistido no significado das palavras: dizer que eles são "sem documentos" é prejulgar o direito deles a obtê-los; dizer "clandestinos" é uma forma de já tê-los expulsado; o que significa um "mediador" que ninguém designou?; será que se instalar em outro país é um "direito humano"? Em seguida, ele não nos teria dito o que era necessário fazer, mas teria enunciado uma de suas raras afirmações: "Se eu tivesse de cometer a justiça ou me submeter a ela , preferia sofrê-la em vez de cometê-la." Em suma, não nos teria dito o que deveríamos pensar, pois a injustiça não se resume àquilo que nos faz mal subjetivamente (como acreditam os bem-pensantes), ela abrange também tudo o que faz mal à cidade . Diante de tantas injustiças misturadas, como era o caso, quem poderia dizer que estava "do lado certo"?
Finalmente, seria demais pedir aos políticos que parassem de se preocupar com a nossa felicidade, e de querer mudar a civilização ou a sociedade, e cuidassem apenas da proteção social ou do emprego, o que aparentemente eles não são capazes de fazer?
continua na próxima postagem
Texto tirado do jornal "Jornal da Tarde"
Caderno de Sábado JORNAL DA TARDE - 5
Sábado - 21-2-98
O lugar dos ideais, finalmente. É claro que se pode analisar o problema de nossos subúrbios ou da imigração sem nunca ter lido o Timeu o Parmênides. O pensamento de Platão não contribui com grande coisa para a sociedade, não cria valores, não nos fornece modos de ação. Mas, para pensar sobre o problema criado pela ocupação da igreja de São Bernardo por imigrantes, há dois anos, em Paris, a leitura do Górgias foi mais útil para mim do que a dos cineastas politicamente comprometidos. Imaginemos Platão às voltas com esse caso e procurando aquilo que é justo. Para começar, ele teria insistido no significado das palavras: dizer que eles são "sem documentos" é prejulgar o direito deles a obtê-los; dizer "clandestinos" é uma forma de já tê-los expulsado; o que significa um "mediador" que ninguém designou?; será que se instalar em outro país é um "direito humano"? Em seguida, ele não nos teria dito o que era necessário fazer, mas teria enunciado uma de suas raras afirmações: "Se eu tivesse de cometer a justiça ou me submeter a ela , preferia sofrê-la em vez de cometê-la." Em suma, não nos teria dito o que deveríamos pensar, pois a injustiça não se resume àquilo que nos faz mal subjetivamente (como acreditam os bem-pensantes), ela abrange também tudo o que faz mal à cidade . Diante de tantas injustiças misturadas, como era o caso, quem poderia dizer que estava "do lado certo"?
Finalmente, seria demais pedir aos políticos que parassem de se preocupar com a nossa felicidade, e de querer mudar a civilização ou a sociedade, e cuidassem apenas da proteção social ou do emprego, o que aparentemente eles não são capazes de fazer?
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Texto tirado do jornal "Jornal da Tarde"
Caderno de Sábado JORNAL DA TARDE - 5
Sábado - 21-2-98
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