domingo, 31 de agosto de 2014

LER AINDA É A MELHOR PARTE DE TODA A HISTÓRIA

Susan Sontag, autora de 'In America', escreve sobre o ato da leitura e da escrita

SUSAN SONTAG
The New York Times

    Ler romances parece-me uma atividade muito normal, enquanto escrever romances é uma coisa muito estranha. Penso assim, pelo menos até lembrar como estas duas coisas estão firmemente relacionadas entre si.
    (Aqui nada de generalidades....Apenas algumas observações). Em primeiro lugar, porque escrever é praticar, com particular intensidade e atenção, a arte da leitura. A gente escreve para ler o que escreveu e ver se está bom. E como, naturalmente, nunca está bom, reescrevê-lo - uma vez, duas vezes, quantas vezes for preciso para que seja algo que a gente aguente ler mais de uma vez. Você é seu primeiro leitor e talvez o mais severo. "Escrever é sentar-se ao tribunal para julgar a si próprio", afirmou Ibsen ao apresentar um de seus livros. É difícil imaginar escrever sem reler.
     Mas, será que aquilo que se escreve nunca fica imediatamente bom? Sim, às vezes, até melhor do que bom. E isso apenas sugere - pelo menos para esta romancista - que com uma olhadela mais atenta ou pronunciando o texto em voz alta - ou seja, fazendo outra leitura - pode ficar ainda melhor. Não estou dizendo que o escritor deva sofrer e suar para produzir algo de bom.
     "O que se escreve sem esforço, de modo geral se lê sem prazer", disse o dr. Johnson e esta máxima parece tão distante do gosto contemporâneo, quanto seu próprio autor. Com certeza, muita coisa escrita sem grande esforço proporciona bastante prazer.
     Não, a questão não é o julgamento dos leitores - que podem muito bem preferir uma obra mais espontânea e menos elaborada do escritor - mas sim um sentimento dos escritores, estes profissionais da insatisfação.
                                                             continua na próxima postagem...

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