SUSAN SONTAG
The New York Times
Ler romances parece-me uma atividade muito normal, enquanto escrever romances é uma coisa muito estranha. Penso assim, pelo menos até lembrar como estas duas coisas estão firmemente relacionadas entre si.
(Aqui nada de generalidades....Apenas algumas observações). Em primeiro lugar, porque escrever é praticar, com particular intensidade e atenção, a arte da leitura. A gente escreve para ler o que escreveu e ver se está bom. E como, naturalmente, nunca está bom, reescrevê-lo - uma vez, duas vezes, quantas vezes for preciso para que seja algo que a gente aguente ler mais de uma vez. Você é seu primeiro leitor e talvez o mais severo. "Escrever é sentar-se ao tribunal para julgar a si próprio", afirmou Ibsen ao apresentar um de seus livros. É difícil imaginar escrever sem reler.
Mas, será que aquilo que se escreve nunca fica imediatamente bom? Sim, às vezes, até melhor do que bom. E isso apenas sugere - pelo menos para esta romancista - que com uma olhadela mais atenta ou pronunciando o texto em voz alta - ou seja, fazendo outra leitura - pode ficar ainda melhor. Não estou dizendo que o escritor deva sofrer e suar para produzir algo de bom.
"O que se escreve sem esforço, de modo geral se lê sem prazer", disse o dr. Johnson e esta máxima parece tão distante do gosto contemporâneo, quanto seu próprio autor. Com certeza, muita coisa escrita sem grande esforço proporciona bastante prazer.
Não, a questão não é o julgamento dos leitores - que podem muito bem preferir uma obra mais espontânea e menos elaborada do escritor - mas sim um sentimento dos escritores, estes profissionais da insatisfação.
continua na próxima postagem...
Nenhum comentário:
Postar um comentário