Confesso, não me cansa nunca esse magnífico drama. Mas não me cansa com essa Margarida Gautier que a Sra. D. Gabriela nos sabe dar; frívola ao princípio, depois sentimental , depois apaixonada, resignada enfim no alto de seu amor, tendo percorrido a escala gradual desse sentimento lustral que a lava da culpa e lhe ergue uma coroa de flores em sua sepultura de tísica. Com essa Margarida pálida e arquejando do quarto ato, desvairada com a afronta de Armando, procurando colher e adivinhar as suas palavras, e curvando-se pouco a pouco à proporção que elas lhe caem dos lábios, até ao grito final, expressão sintética de um despedaçar interno de ilusões da vida. Com essa Margarida do quinto ato, abatida e prostrada, que )morre quando parecia voltar à vida, com o riso nos lábios e a mocidade na fronte.
(Trecho de Machado de Assis sobre o espetáculo 'A Dama das Camélias', só publicado anteriormente no nº 19 de ´O Espelho´, no Rio, 1860)
Texto tirado de: "O ESTADO DE SÃO PAULO D5"
CADERNO2/CULTURA
CENA BRASILEIRA
DOMINGO, 17 DE JUNHO DE 2001
OBSERVAÇÃO: Gosto de ler artigos antigos....remetem-nos (a mim) ao passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário