No auge do stalinismo e numa época em que as esquerdas internacionais haviam cooptado Chaplin e feito de seu Vagabundo o símbolo universal do homem desamparado, Carlos Drummond de Andrade teceu 227 versos no seu Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin, levando o recatado mineiro a arrematar o poema com essa pieguice: "O' Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e esperança."
Outro aspecto da relação cinema/poesia é a maneira como os poetas têm sido retratados nos filmes. A história é longa, mas o espaço não permitiria avançarmos nesta seara. De modo geral, os poetas sempre foram retratados no cinema como loucos, fracos ou selvagens. Exceção talvez é o herói Longflellows Deeds, que faz versos para cartões de festas, vivido por Gary Cooper em O Galante Deeds ( Mr. Deeds Goes to Washington), de 1937, dirigido por Frank Capra.
A poesia tem servido também de suporte, ou ponto de partida, para muitos filmes, como os baseados nos dramas shakespearianos, nas versões para a tela do Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, sem falar nas adaptações a partir de T. S. Eliot, Marlowe, Maxwell Anderson. No Brasil, tivemos o caso de O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro, com base num poema homônimo de Drummond.
Tal tipo de adaptação foi mais frequente no cinema mudo, quando os cineastas tomavam poemas narrativos, ou mesmo líricos, como ponto de partida. Um dos mais conhecidos é A Food There Was, a produção de 1915, de William Fox, que extraiu o título da primeira linha do The Vampire, de Kipling. O filme lançou a carreira de Theodosia Goodman, aliás Theda Bara.
Robert Sherwood escreveu esta paródia do poema de Kipling: "Um tolo havia que pagou seu preço/ Por certa dama de incerto endereço;/ Ele a levou consigo ao faroeste,/ Ele a vestiu conforme bem se veste/ E, enchendo-lhe os olhos de beladona,/ Disse: 'Esquece agora tua zona;/
Alma negra terás e rubros lábios,/ És misteriosa vamp de alfarrábios'./ O contrato assinou pois era lhana/ E ele a fez famosa numa semana./ Se eu lhe contar seus lucros todavia,/ Verás ali um tolo não havia."
Poemas foram citados em muitos filmes. Uma das citações mais flagrantes é o verso do poema de Leopardi, Le Ricrdanze, que dá título ao filme de Visconti, Vagas Estrelas da Ursa (Vaghe Stelle dell'Orsa), de 1965. O irmão da heroína cita com frequência Leopardi, e a obra e a vida do poeta iluminam os temas do filme.
continua na próxima postagem......
Texto extraído do "Jornal da Tarde" de
-Sábado - 16-8-97
Jornal da Tarde pertencia ao "O Estado de São Paulo"
Outro aspecto da relação cinema/poesia é a maneira como os poetas têm sido retratados nos filmes. A história é longa, mas o espaço não permitiria avançarmos nesta seara. De modo geral, os poetas sempre foram retratados no cinema como loucos, fracos ou selvagens. Exceção talvez é o herói Longflellows Deeds, que faz versos para cartões de festas, vivido por Gary Cooper em O Galante Deeds ( Mr. Deeds Goes to Washington), de 1937, dirigido por Frank Capra.
A poesia tem servido também de suporte, ou ponto de partida, para muitos filmes, como os baseados nos dramas shakespearianos, nas versões para a tela do Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, sem falar nas adaptações a partir de T. S. Eliot, Marlowe, Maxwell Anderson. No Brasil, tivemos o caso de O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro, com base num poema homônimo de Drummond.
Tal tipo de adaptação foi mais frequente no cinema mudo, quando os cineastas tomavam poemas narrativos, ou mesmo líricos, como ponto de partida. Um dos mais conhecidos é A Food There Was, a produção de 1915, de William Fox, que extraiu o título da primeira linha do The Vampire, de Kipling. O filme lançou a carreira de Theodosia Goodman, aliás Theda Bara.
Robert Sherwood escreveu esta paródia do poema de Kipling: "Um tolo havia que pagou seu preço/ Por certa dama de incerto endereço;/ Ele a levou consigo ao faroeste,/ Ele a vestiu conforme bem se veste/ E, enchendo-lhe os olhos de beladona,/ Disse: 'Esquece agora tua zona;/
Alma negra terás e rubros lábios,/ És misteriosa vamp de alfarrábios'./ O contrato assinou pois era lhana/ E ele a fez famosa numa semana./ Se eu lhe contar seus lucros todavia,/ Verás ali um tolo não havia."
Poemas foram citados em muitos filmes. Uma das citações mais flagrantes é o verso do poema de Leopardi, Le Ricrdanze, que dá título ao filme de Visconti, Vagas Estrelas da Ursa (Vaghe Stelle dell'Orsa), de 1965. O irmão da heroína cita com frequência Leopardi, e a obra e a vida do poeta iluminam os temas do filme.
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Texto extraído do "Jornal da Tarde" de
-Sábado - 16-8-97
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