sábado, 7 de fevereiro de 2015

CINEMA E POESIA (04)

     continuação....

          Em telegrama que enviou a Bem Hecht, Mankiewicz escreveu essa gracinha: "Há milhões para se ganhar aqui, e a única concorrência é de idiotas." Hecht foi e em pouco tempo ganhava 15 mil dólares por semana. Mas odiava o que fazia e certa feita cuspiu versos no prato onde comia, bebia e se fartava: "Caros senhores por quem sou bem pago/ Cinquenta vezes quando peido e cago;/ Que me ofertam estátuas quando guincho/ E chamam de grande arte meus relinchos;/ Eu bato suas carteiras sem perdão/ Babacas ´cês me partem o coração;/ De joelhos chafurdado em glorioso/ Monte de merda, mole e meloso,/ E adorando o bezerro de ouropel,/ Pergunto a meus botões e a meu chapéu:/ Por que me roubam meu destino assim/ Por que me fazem escrever chinfrim?"
          Mandou estes decassílabos escatológicos aos grandes executivos de Hollywood como mensagem de Natal. Ao contrário de Hecht que vivia nababescamente, Bertold Brecht tinha razões de sobra não amar a Meca. Exilado do nazismo e dominando mal a língua inglesa, além de fama de homem de esquerda, Brecht nunca conseguiria abocanhar uma fatia dos milhões que já jorravam ou competir com sucesso "entre os idiotas".
          Escreveu mais de 50 projetos para filme, mas não conseguiu vender um sequer, exceto um trabalho em conjunto feito com o romancista Llon Feuchtwanger (nunca filmado por Samuel Goldwyn) e uma colaboração na feitura do roteiro Os Carrascos Também Morrem (Hangmen Also Die), em 1943, filmado por seu compatriota Fritz Lang.
          Assim, quando o dramaturgo alemão decidiu dedicar um poema a Hollywood, ele o fez com o distanciamento e a contundência típicos: "Todos os dias, para meu ganha pão,/ Vou ao mercado onde se compram mentiras./ Esperançosamente,/ Tomo assento entre os vendedores."
          Entre outros, escreveram poemas sobre cinema, ou mencionaram o cinema em seus versos, Vachel Lindsay, Roobert Sherwood, Ogden Nash, Hart Crane, Rudyard Kipling, Stephen Spender, Robert Crawford, Cari Sandburg Randall Jarrell, e.e.cumming, Edmund Wilson, Frank O'Hara, John Updike, Robert Frost, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Robert Lowell, Graham Greene, Marianne Moore, W.H. Auden.
          No Brasil, pouquíssimo de cinema aparece na obra de nossos poetas maiores. Em 1962, em Roma Murilo Mendes, o poeta da plasticidade da novidade da imagem, escreve uns versos de exaltação ao diretor de O Encouraçado de Potemkin, no poema Gráfico para Sergei Eisentein.
          Vinicius de Moraes, que, além de consul em Los Ângeles, em fins dos anos 40, foi também crítico de cinema, deixou-nos um longo e satírico  poema em que, num imaginário encontro amoroso com uma loura, em Hollywood, chega a ter acessos de furioso canibalismo.
                               continua na próxima postagem....
             
Texto extraído de: "Caderno de Sábado" - JORNAL DA TARDE
Data: - Sábado - 16-8-97
"Jornal da Tarde" pertencia ao jornal " O ESTADO DE SÃO PAULO"

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