De acordo com Susan Sontag, a leitura em geral precede a escrita e o impulso para escrever quase sempre é despertado pela leitura
Êxtase - Infelizmente nunca perdemos o ego. Mas a leitura, esta espécie de êxtase para fora do corpo, é tão parecida com um transe que nos faz sentir sem o ego. Como a leitura - a leitura que arrebata e extasia - escrever ficção - habitando outros nós mesmos - dá também a sensação de perder-se.
Todos gostam agora de pensar que escrever é apenas uma forma de olhar para si próprio. Como não se acredita mais que sejamos capazes de sentimentos autenticamente altruístas, não se supõe que sejamos capazes de escrever a respeito de ninguém mais, a não ser de nós mesmos.
Mas isso não é verdade. William Trevor fala da audácia da imaginação não-autobiográfica. Por que você não escreveria para fugir de si próprio, da mesma forma como você pode escrever para se expressar? É muito mais interessante escrever a respeito dos outros.
Aquilo, a respeito do qual eu escrevo, é diferente de mim. Da mesma forma como aquilo que escrevo é mais inteligente do que eu. Porque eu posso reescrevê-lo. Meus livros conhecem o que eu outrora conhecia, intermitentemente. E conseguir as melhores palavras na página não parece mais fácil, mesmo depois de escrever durante tantos anos. Ao contrário.
E aqui está a grande diferença entre a leitura e a escrita.
Ler é uma vocação, uma habilidade, na qual, com a prática, a gente tende a tornar-se cada vez mais especializada. O que a gente acumula como escritor, em sua maior parte são incertezas e ansiedades. (Tradução de José dos Santos).
Texto tirado de: CADERNO2/CULTURA
De "O Estado de São Paulo" - D5
Domingo, 29 de julho de 2001
Esse artigo pode ser acessado em Acervo de "O Estado de São Paulo" - do dia:29/07/2001
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