Mas essa é uma outra história. O que nos interessa aqui é a relação cinema/poesia, em todas as suas implicações, assunto que é objeto de dois livros recentes, Movie e Verse, de Philipp (London Press), e Cinema and American Poetry, de Elliot Carradine (University of Wisconsin Press). Ambos são coletâneas de poemas em língua inglesa que versam sobre cinema, como tema central ou marginal, escritos por poetas maiores ou menores e também por diretores, produtores, roteiristas e atores.
Um dos mais antigos poemas provocados pelo cinema foi escrito pelo italiano Vincenzo Cocchetti e publicado num jornal romano, em 11 de abril de 1897. Também na Itália, o romancista e poeta Gabriele D'Annunzio escreveu o roteiro e os entretítulos poéticos de Cabíria, o épico italiano feito em 1914, dando início assim a uma tradição literária nacional que desembocaria em Pasolini.
Na Rússia, Vladimir Maiakovski esteve profundamente envolvido no cinema soviético. No Brasil, Olavo Bilac, Coelho Neto, Emilio de Menezes, entre outros, não sobreviviam apenas como jornalistas e publicitários. Faziam anúncios para o Xarope Bromil, para a Société Anonyne du Gás e para os fósforos Brilhante, como esta redondilha maior de Bilac, que lhe teria rendido cem mil réis: "Aviso a quem é fumante:/Tanto o príncipe de Gales/Como o Dr.Campos Sales/usam Fósforos Brilhantes."
Também escreviam para cinema. Em 1915, Coelho Neto faz o roteiro de um seriado, Os Mistérios do Rio de Janeiro, do qual só se produziu um episódio. E Olavo Bilac colabora num filme de forte cunho nacionalista, Pátria Brasileira, que trata da participação do País na 1ª Guerra Mundial.
Appollinaire, na França, e Vachel Lindsay, nos EUA, estiveram entre os primeiros a escrever sobre as possibilidades singulares do novo meio, mas nenhum deles trabalhou no cinema, embora em 1914, Appollinaire colaborasse num roteiro nunca filmado.
Lindsay foi dos primeiros intelectuais a publicar texto importante sobre cinema. Em 1915, lança A Arte do Filme, em que analisa o cinema em suas múltiplas facetas e mostra seu fascínio pela atriz Mac Marsh, a quem dedica vários poemas. D. W. Griffith também se meteu a poeta, antes de fazer poesia com imagens, mas seu versejar é de um pieguice patética.
O poeta e teórico Antonin Artaud envolveu-se com o cinema experimental que se fazia na França nos anos 20. Escreveu o roteiro do filme La coquelle et le Clergyman (1927) uma bobagem ininteligível metida a vanguarda; e fez o papel de Marat no Napoleão (1927) de Abel Gance, bem como o jovem e simpático padre em A Paixão de Joana d'Arc (1928), de Carl Dreyer.
continua na próxima postagem....
Texto extraído do jornal: Jornal da Tarde
Caderno de Sábado
Sábado-16-8-97-
Jornal da Tarde pertencia ao jornal "O Estado de São Paulo"