Depois os vaga-lumes incontáveis cobriram-na, os andrajos desapareceram numa profusão infinita de pedrarias, e a desgraçada, vestida de pirilampos, dormindo imperturbável, como tocada de uma morte divina, parecia partir para uma festa fantástica no céu, para um noivado com Deus... E os pirilampos desciam em maior quantidade sobre ela, como lágrimas das estrelas. Sobre a cabeça dourada brilhavam reflexos azulados, violáceos e daí a pouco braços, mãos, colo, cabelos sumiam-se no montão de fogo inocente. E vaga-lumes vinham mais e mais, como se a floresta se desmanchasse toda numa pulverização de luz, caindo sobre o corpo de Maria até se sepultarem numa tumba mágica. Um momento, a rapariga inquieta ergueu docemente a cabeça, abriu os olhos, que se deslumbraram. Pirilampos espantados faiscavam relâmpagos de cores... Maria pensou que o sonho a levara ao abismo dourado de uma estrela, e recaiu adormecida na face iluminada da Terra..............
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pags. 189/190
Do livro: Canaã
Graça Aranha
12ª Edição
Revista por Olavo Aníbal Nascentes
F. BRIGUIED & CIA., Editores
1968
OBSERVAÇÃO: Postei esse trecho do livro porque relembrei, quando ainda estudante, professora de português, adentrou na sala de aula e logo começou ler esse trecho do livro.....Fiquei maravilhado com essa parte da narrativa....Ela tinha uma bela voz, boa dicção; lia pausadamente: respeitando as vírgulas, ponto e vírgulas, pontos finais....Na época achei, como ainda acho, uma leitura bem feita, fazem-nos tão bem, como as belas músicas.
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