sábado, 18 de março de 2017
PALAVRAS AO MAR
PALAVRAS AO MAR
(Vicente de Carvalho)
Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias! Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pelo!
Junto da espuma com que as praias bordas,
Pelo marulho acalentada, à sombra
Das palmeiras que arfando se debruçam
Na beirada das ondas - a minha alma
A flor da murta para o sol do estio.
Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras:
Abril sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o voo à tona das espumas...
Ó velho condenado
Ao cárcere das rochas que te cingem!
Em vão levantas para o céu distante
O borrifo das ondas desgrenhadas
Debalde! O céu cheio de sol, se é dia
Palpitante de estrelas, quando é noite.
Paira, longínquo e indiferente, acima
Da tua solidão, dos teus clamores...
Condenado e insubmisso
Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo
Uma alma sobre a qual o céu resplende
- Longínquo céu de um esplendor distante.
Debalde, ó mar, que em ondas te arrepelas,
Meu tumultuoso coração revolto
Levanta para o céu, como borrifo,
Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.
VICENTE DE CARVALHO:
Membro da Academia Brasileira de Letras, nasceu em São Paulo, em 1866.
Advogado, magistrado e jornalista. Escreveu: Adentias, Relicário, Rosa, Rosa de Amor, Poemas
e Canções.
Extraído do livro:
Língua e Literatura Brasileira
(Língua Portuguesa e Literatura Luso-Brasileira)
Volume 5
Editora F.T.D. S.A.
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