sábado, 30 de abril de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (02)

                              continuação......

          A primeira fotografia fixa os professores do Conservatório no almoço em que comemoram a promoção do companheiro mais jovem. A imagem é convencional e respeitosa, desde a colocação dos figurantes, que se distribuem de acordo com a idade e o merecimento. Estão todos de preto, numa frontalidade dominante e marcam no centro do grupo o lugar de chefe na figura impositiva de Gomes Cardim, o único de capa e levemente de três quartos. Uma certa fantasia dos chapéus talvez chamasse a atenção de Machado de Assis, que notaria, certamente, que os mais moços do grupo, Mário de Andrade e Samuel Machado dos Santos estão sérios e empertigados, meio escondidos na fila dos fundos. As bengalas e guarda-chuvas, ao contrário do que ocorre em nosso romance romântico, não interrompem com a ameaça do gesto a hirta severidade da composição. Permanecem seguras em posição vertical, à espera do momento de servir. A nota dissonante só se manifesta na imagem do maestro Rocchi, que tendo aportado no Brasil com uma Companhia de Ópera, nunca abandonou uma certa postura boêmia, que se traduz na colaboração displicente do chapéu, no colete branco de fustão e na gravata lavalière.
                                     continua na próxima postagem.....
 
Texto extraído de "Caderno de Sábado"
JORNAL DA TARDE
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"
 
                                               

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