CANTIGA
Rui Queimado morreu con amor
en seus cantares, par Sancta Maria
por ua dona que gran ben queria,
e, por se meter por mais trobador,
porque lh'ela non quis [o] ben fazer,
fez-s'el en seus cantares morrer,
mas ressurgiu depois ao tercer dia!
Esto fez el por ua sa senhor
que quer gran ben, e mais vos en diria:
porque cuida que faz i mestria,
e nos cantares que fez a sabor
de morrer i e desi d'ar viver;
esto faz el que x'o pode fazer,
mas outr'omen per ren non [n] o faria.
E non há já de sa morte pavor,
senon sa morte mais la temeria,
mas sabe ben, per sa sabedoria,
que viverá, dês quando morto for,
e faz-[s´]en seu cantar morte prender,
desi ar viver: vede que poder
que lhi Deus deu, mais que non cuidaria.
E, se mi Deus a min desse poder,
qual oi' el há, pois morrer, de viver,
jamais morte nunca temeria.*
(J.J. Nunes, Crestomatia Arcaica, 3ª ed.,
Lisboa, Clássica, 1943, p.400.)
* par = por; en = disso; porque cuida que faz i maestria= porque pensa que possui talento; sabor = gosto; i = aí; desi = depois; ar = re ( ar viver = reviver ), de novo, outra vez; dês = desde; oi = hoje; pois morrer, de viver = viver depois de morrer.
Cantiga extraída do livro:
A literatura portuguesa através dos textos
MASSAUD MOISÉS
13ª Edição
EDITORA CULTRIX
São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário