sábado, 29 de outubro de 2016
CANTIGA DO MALDIZER - João Garcia de Guilhade -
CANTIGA
Ai dona fea! foste-vos queixar
porque vos nunca louv' en meu trobar
mais ora quero fazer un cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! se Deus mi perdon!
e pois havedes tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como loarei:
dona fea, velha e sandia! *
(Oskar Nobiling. As Cantigas de D. Joan
Garcia de Guilhade, Erlangen, 1907, p. 67.)
* ora = agora; toda via = sempre, completamente; sandia = louca; que vos eu loe en esta razon = mereceis a justiça de eu louvá-la; loaçon = louvor; pero = todavia.
Cantiga extraída do livro:
A literatura portuguesa através dos textos
13ª edição
MASSAUD MOISÉS
Editora Cultrix
São Paulo
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
CANTIGA DE ESCÁRNIO - Pêro Garcia Burgalês -
CANTIGA
Rui Queimado morreu con amor
en seus cantares, par Sancta Maria
por ua dona que gran ben queria,
e, por se meter por mais trobador,
porque lh'ela non quis [o] ben fazer,
fez-s'el en seus cantares morrer,
mas ressurgiu depois ao tercer dia!
Esto fez el por ua sa senhor
que quer gran ben, e mais vos en diria:
porque cuida que faz i mestria,
e nos cantares que fez a sabor
de morrer i e desi d'ar viver;
esto faz el que x'o pode fazer,
mas outr'omen per ren non [n] o faria.
E non há já de sa morte pavor,
senon sa morte mais la temeria,
mas sabe ben, per sa sabedoria,
que viverá, dês quando morto for,
e faz-[s´]en seu cantar morte prender,
desi ar viver: vede que poder
que lhi Deus deu, mais que non cuidaria.
E, se mi Deus a min desse poder,
qual oi' el há, pois morrer, de viver,
jamais morte nunca temeria.*
(J.J. Nunes, Crestomatia Arcaica, 3ª ed.,
Lisboa, Clássica, 1943, p.400.)
* par = por; en = disso; porque cuida que faz i maestria= porque pensa que possui talento; sabor = gosto; i = aí; desi = depois; ar = re ( ar viver = reviver ), de novo, outra vez; dês = desde; oi = hoje; pois morrer, de viver = viver depois de morrer.
Cantiga extraída do livro:
A literatura portuguesa através dos textos
MASSAUD MOISÉS
13ª Edição
EDITORA CULTRIX
São Paulo
sábado, 22 de outubro de 2016
CANTIGAS DE AMOR
CANTIGAS DE AMOR
Como morreu quem nunca ben
ouve da ren que mais amou
e quen viu quanto receou
d'ela, e foi morto por en:
Ay mia senhor, assim moir'eu!
Com morreu quem foi amar
quen lhe nunca quis ben fazer,
e de quen lhe fez Deus ver
de que foi morto com pesar:
Ay mia senhor, assim moir'eu!
Com'ome que ensandeceu,
senhor, com gran pesar que viu,
e non foi ledo nem dormiu
depois, mia senhor, e morreu:
Ay mia senhor, assim moir'eu!
Como morreu quem amou tal
dona que lhe nunca fez ben,
e quen a viu levar a quen
a non valia, nem a val:
Ay mia senhor, assi moir'eu!
pag.244
(Paay Soáres de Taveiros, Cancioneiro da Ajuda
nº 35, apud MENDES DOS REMÉDIOS.)
Cantiga extraída do livro:
BIBLIOTECA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Vol.1
Alpheu Tersariol
LISA-LIVROS IRRADIANTES S.A.
1971
Origem da Língua Portuguesa
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
CANTIGAS DO AMIGO
CANTIGA DO AMIGO
O meu amigo que me dizia
que nunca mais migo viveria
par Deos, donas, aqui é já!
Que muyto m'el avia jurado
que me non visse, mais, a Deos grado,
par Deos, donas, aqui é já!
O que jurava que non visse
por non ser todo quant'el disse,
par Deos, donas, aqui é já!
Melhor o fezo ca o non disse:
par Deos, donas, aqui é já!
pag.244/245
(Paay Soares de Taveiros, no Cancino da Vaticana,
nº 239, transcrito por Mendes dos Remédios.)
Cantiga extraída do livro:
Biblioteca da Língua Portuguesa
Vol.1
Alpheu Tersariol
"ORIGEM DA LINGUA PORTUGUESA"
Lisa - Livros Irradiantes S.A.
1971
sábado, 15 de outubro de 2016
CANTIGA D'AMIGO
CANTIGA D'AMIGO
Chegou nh' amiga recado
Daquel que quero gram ben.
Que poys que viu meu mandado
Quanto pode viir, ven;
E and'eu leda poren
E fazo muyto aguysado.
El ven por chegar coytado
Ca sofre grã mal d'amor
E anda muyt'alongado
D'aver prazer, né sabor
Senon ali hu eu for,
Hu é todo seu cuydado.
Por quanto mal a levado
Amiga razon farey
De lhi dar en d'algu grado
Poys ve como lh'eu mandey
E logu'el será ben sey
Do mal querid' e cobrado
E das coytas que lh' eu dey
Desde foy meu namorado.
(Cancioneiro d'El-Rei D.Dinis, ed. de
CAETANO LOPES DE MOURA, Paris,
1847, p. 175-176.)
Extraída do livro:
Biblioteca da Língua Portuguesa
Vol.1
1971
ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
Alpheu Tersariol
Lisa - Livros Irradiantes S.A.
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
ENXEMPRO DH'UA MONJA
EXEMPRO DH'UA MONJA
"Foy em outro tempo huã monja devota, fremosa de corpo e de coração, e entre as outras fremesuras que auia tijinha muy fremosos olhos. O senhor da terra vyo e quysea auer per amores, mes nõ pode, e mandouha rroubar per sua gente. E ella, quando os uyo, temeos muyto, e preguntouhos por que a amaua seu senhor mais que as outras. E, eles rresponnerom; Senhora, por vossos olhos. E ella os fez logo thirar, e enujoulhos e mandou-lhe dizer que já auia o que adseiava, que daquele fezesse sua uoontade. E ella amou mais perder fremesura do corpo que ha da alma".
pag. 252
Texto extraído do livro:
BIBLIOTECA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Vol.1
Lisa - Livros Irradiantes S.A.
1971
ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
sábado, 1 de outubro de 2016
UMA BREVE PAUSA....
Uma breve pausa.....
Nos dias: 08 e 09 de outubro,
Deixarei de postar.....
Voltarei a postar no dia
15 de outubro........
yosinoli
outubro/2016
Assinar:
Postagens (Atom)