sábado, 25 de fevereiro de 2017

Antologia mostra o que Hemingway sabia fazer melhor (04)

      continuação da postagem anterior.....
                                                      
                                                       Antologia mostra o que
                                                  Hemingway sabia fazer melhor

                                                  Volume reúne 21 exemplares
                          do gênero em que o escritor americano melhor exercitou
                                                           sua maetria: o conto

                Dois contos que integram esta seleção também figuram entre o que de melhor escreveu Hemingway no gênero, não só pela técnica superlativa neles empregada, como pela sofisticação com que atinge a quintessência da ficção, que é sugerir com a dose exata de ambiguidade, expondo apenas o suficiente para que o não dito seja mais provocante do que o que é exteriorizado. Essa arte está presente com toda a sua força em Colinas Parecendo Elefantes Brancos: um casal espera o trem numa estação da Espanha, tendo ao fundo as longas colinas esbranquiçadas que se erguem no Vale do Ebro. Ela está grávida, mas disposta a abortar para agradá-lo. Ele pode até mudar de ideia e deixa-la ter o filho, mas no momento o que importa é saborearem a cerveja que tomam juntos. E em Um Lugar Limpo e Bem Iluminado, Hemingway dá mais uma mostra da sua genialidade ao descrever, por meio de curtos e secos diálogos, a solidão e o desamparo da velhice, resumida na desesperança que faz o velho, que tentara se suicidar, criar uma sinistra versão para a oração do Pai-Nosso, no qual o verdadeiro Deus é o nada. Se desta vez a velhice é sinônimo dos perdedores, ela teria, anos mais tarde , uma segunda chance na personagem do pescador Santiago, o velho que ganha a luta contra o mar e o peixe. Mesmo porque os heróis de Hemingway podem ser destruídos, jamais derrotados.

CONTOS - VOLUME 2, de Ernest Hemingway, tradução de
Ênio Silveira e José J.Veiga, Civilização Brasileira, 320 pags,. R$ 32,00
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J.C.Ismael é jornalista

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Antologia mostra o que Hemingway sabia fazer melhor (03)


                                                  Antologia mostra o que Hemingway sabia fazer melhor
                                                                      *Por J.C.Ismael
                                                   continuação da postagem anterior.........

         O cinema popularizou um dos melhores contos de Hemingway, As Neves do Kilimanjaro. Mas o filme, de 1952, dirigido por Henry King, com Gregory Peck, Susan Hayward e Eva Gardiner nos papéis centrais, resultou um melodrama barato, sem vestígios das delicadas muanças da história, que nem o roteiro de Casey Robinson conseguiu salvar. Harry é um escritor que está morrendo de gangrena e, tendo ao fundo a impotência silenciosa do Kilimanjaro, faz o balanço crítico da sua vida. A técnica usada para escrever esse conto, com flashbacks misturados com indícios que driblam a realidade para finalmente expô-la, causou sensação na época. Como lembra o crítico Philip Young, tem um precedente exato num conto experimental do grande satírico Ambrose Bierce (encarnado por Gregory Peck no belo filme de Luiz Puenzo, Gringo Velho) publicado em 1891, An Ocurrence at Owl Creek Bridge, publicado em 1871, pelo qual Hemingway demonstrara admiração em diversas ocasiões. A sugestão, porém, é menos de plágio que de inspiração.
                                                                        continua na próxima postagem....
 
Texto extraído do JORNAL DA TARDE - Caderno de Sábado -
Data: Sábado - 24-5-97
-JORNAL DA TARDE-
pertencia ao jornal:
"O ESTADO DE SÃO PAULO"
 
                                             

sábado, 11 de fevereiro de 2017

ANTOLOGIA MOSTRA O QUE HEMINGWAY SABIA FAZER MELHOR (02)

       JORNAL DA TARDE Caderno de Sábado                                      Sábado - 24-5-97

       continuação da postagem anterior.....

Escrevia, como disse ao entrevistador, para, acima de tudo, propiciar o "prazer da leitura". E se esse prazer pode ser experimentado com grande intensidade nos seus romances e novelas, ainda é maior nos seus contos, gênero de que foi mestre incontestável como o foram, na literatura de língua inglesa, Nathanael Hawthorne, Herman Melville, Henry James, Katherine Anne Porter Twain.
     Em 1938 Hemingway reuniu num só volume seus primeiros 49 contos anteriormente publicados em revistas como Cosmopolitan, Transition, Scribner's e Esquire.
Vinte e um deles acabam de ganhar uma edição brasileira com o título de Contos - Volume 2, complementando a publicação do Volume 1 pela mesma editora. Algumas derrapadas dos tradutores não chegam a prejudica-la. Abre a coletânea um conto famoso, um dos mais perfeitos que o autor escreveu: A Vida Breve e Feliz de Francis Macomber. Quem nunca leu Hemingway pode, com esta pequena obra-prima, ser introduzido com segurança no universo do autor. Nele estão presentes as constantes da sua obra: a atração pelo perigo, a precariedade das relações humanas, as ilusões do heroísmo, a luta inglória que as pessoas mantem para se sentir importantes e insubstituíveis. Francis e Margô, o típico casal de americanos ricos, participa de um safari acompanhado pelo guia inglês, Robert Wilson. Formado o triângulo e a consequente infidelidade de Margô, o plot está feito. Francis é um covarde, atira mal, mas acredita que seus bons sentimentos são a credencial segura para se sentir protegido dos homens e das feras. A história termina de maneira trágica: Francis morre quando seu cérebro é atingido acidentalmente pelo rifle da mulher durante uma caçada que ambos fazem a um búfalo. Antes da caçada, anuncia que nunca estivera tomado por tamanha felicidade, causada pela expectativa do perigo que ia enfrentar. 
                      continua na próxima postagem......
 
Texto extraído de:
Jornal da Tarde - Caderno de Sábado
Data: Sábado - 24-5-97
Jornal da Tarde
Pertencia ao jornal
" O ESTADO DE SÃO PAULO "


sábado, 4 de fevereiro de 2017

ANTOLOGIA MOSTRA O QUE HEMINGWAY SABIA FAZER MELHOR(01)

JORNAL DA TARDE Caderno de Sábado                                               Sábado - 24-5-97

                                        Antologia mostra o que Hemingway sabia fazer melhor
                                                              
                                      Volume reúne 21 exemplares do gênero em que o escritor
                                            americano melhor exercitou sua maestria: o conto
                                                                *Por J.C. Ismael


  Já é difícil escrever ficção, e ainda me pedem para explicar o sentido. Isso pode tirar o emprego dos resenhistas. Se eles conseguem dar conta do recado, por que eu iria me meter? Leia o que escrevo só pelo prazer da leitura: qualquer outra coisa que vier a encontrar será medida daquilo que você trouxe a ela. " Essas palavras são de um trecho da entrevista que a célebre Paris Review fez com Ernest Hemingway, em maio de 1954 num café de Madri. Hemingway não gostava de dar entrevista porque as perguntas eram quase sempre as mesmas e mais ligadas à sua agitada vida pessoal que à sua produção literária. A observação acima, por exemplo, decorreu de uma das perguntas que mais o irritavam: se existiam "símbolos" em sua obra. Só quem não a conhece faria uma pergunta dessa. Alegorias, símbolos ou metáforas não fazem parte do seu universo ficcional: realista clássico, Hemingway escreve só o que sabe. Sobre o que não sabe ou gostaria de saber, silencia. Jamais usa a literatura para sofisticadas especulações sobre o mistério da natureza humana: apenas descreve-a com toda a singeleza e despojamento possíveis. Essa é, para ele, a suprema missão do escritor.
     Hemingway é um artesão com extraordinária sensibilidade para o ofício de contar histórias como o foram poucos escritores do seu tempo. Brigou muito com Gertrude Stein, inconformada com o fato de que ele não se preocupa em fazer o leitor "pensar", e apesar de ter feito uma tímida "concessão" às exigências da olímpica matrona usando a técnica do stream-of-consciousness em As Neves do Kilimanjaro, despojar a narrativa de qualquer outra "sedução" que não fosse ela própria constituiu para ele o objetivo supremo da sua arte.
                                                                          continua na próxima postagem.....
 
Texto extraído do "CADERNO DE SÁBADO"
Jornal da Tarde
Data: Sábado -24-5-97
Jornal da Tarde
pertencia
ao jornal:
"O ESTADO DE SÃO PAULO"