sábado, 25 de junho de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (12)

           continuação.....
    O texto que temos em mão é bem composto, em certo aspectos muito pessoal e, como foi conservado cuidadosamente por Mário de Andrade, dever ter servido de referência para estudos posteriores. Mas não se pode considerar os seis capítulos que deixou redigidos como uma versão definitiva. A escrita é clara mas incolor e comparada à escrita cuidadosa e cheia de achados expressivos de outros trabalhos da mesma época, ainda parece provisória. Trata-se, contudo de um documento precioso de sua atuação no magistério e da ordenação que, naquele momento, estava dando às ideias.
     O primeiro ponto a chamar a atenção é a acentuada conotação psicológica dos apontamentos, a mescla inesperada de psicanálise e fenomenologia, que tem como apoio constante o conceito básico de sublimação. O curioso é que nessa Estética "fundada no amor e na relatividade da verdade humana" o nacionalismo, que ocupara um lugar tão importante na teorização literária anterior, não merece nenhum destaque. É mencionado de passagem, mas para logo ser descartado. Também não há referência à arte empenhada ou de combate, que é a outra preocupação dominante de seu ideário.
     E no entanto a Estética representa uma meditação muito pessoal, sobretudo o 5º capítulo, "A Manifestação Musical", no qual vou me deter.
     O autor entende como "manifestação musical" não o acontecimento privado, em que o artista concretiza na obra o impulso criador; mas o momento bem mais complexo em que "a obra-de-arte, chegando ao destino a que foi destinada", revela a sua mensagem final, "a mensagem do amigo" - como Mário a designa. O que determina o fenômeno artístico" é a sublimação de um ato de amor".
               continua na próxima postagem.....
 
Texto extraído de "Caderno de Sábado"
JORNAL DA TARDE
Data: Sábado - 6 - 1 - 96
Jornal da Tarde
pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"
 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (11)

              continuação....
     A segunda indagação diz respeito à Arte Pura - Partindo do exemplo da Música, - que no conjunto das Artes representa a realização mais perfeita da Beleza Pura, - pode-se admitir, em geral, a Arte Pura? Pode-se encarar a Arte como propõe a revista L'Espirit Nouveau - a bíblia dos modernistas brasileiros - como "uma máquina de produzir comoções estéticas"? A questão não é nova e Mário já havia se referido a ela em 1921, no "Prefácio Interessantíssimo", retomando-a mais tarde na Escrava. Neste último texto ele lembrava que a Música já havia realizado a beleza apenas artística, a arte pura, há duzentos anos, com João Sebastião Bach e Mozart. O que não era surpreendente, tratando-se da mais vaga, da  menos intelectual de todas as artes; daquela que Combarieu havia definido como "a arte de pensar sem conceitos por meio de sons", - Mas seria válido admitir a mesma possibilidade em relação a uma manifestação artística representativa como a  Pintura? Ao abolir o assunto a pintura certamente continuaria nos encantando através das linhas e das cores, do equilíbrio da composição. Mas reduzida apenas à sua expressão formal e sem a função coletivizadora, se transformava numa arte de grande pobreza. E concluía: "E a finalidade da obra-de-arte é a obra-de-arte, enquanto esta representa o humano transposto pela beleza e aspirando a uma vida melhor".
      Estes dois exemplos, que achei oportuno mencionar, testemunham bem o método expositivo de Mário e como, mesmo fixando-se na Música, conseguia transitar com desembaraço de um problema para outro, ampliando o campo estético do aluno. Mas voltemos ao compêndio.
                      continua na próxima postagem......
 
Texto extraído de - CADERNO DE SÁBADO -
Jornal da Tarde
Data: Sábado - 6-1-96
"Jornal da Tarde"
Pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"
 

sábado, 18 de junho de 2016

VAMOS REZAR!.......



                                                       CREDO

                                  Creio em Deus, Pai Todo-Poderoso,
                                  Criador do céu e da terra,
                                  E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor,
                                  Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
                                 
                                  Nasceu da Virgem Maria,
                                  Padeceu sob Pôncio Pilatos,
                                  Foi crucificado, morto e sepultado,
                                  Desceu a mansão dos mortos,
                                 
                                  Ressuscitou ao terceiro dia,
                                  Subiu aos Céus,
                                  Está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso
                                  Donde há de vir a julgar os vivos e mortos,
                                 
                                  Creio no Espírito,
                                  Na Santa Igreja Católica,
                                  Na comunhão dos Santos,
                                  Na remissão dos pecados,
                                  Na ressurreição da carne,
                                  Na vida eterna.
                                  
                                  Amém!...

sexta-feira, 17 de junho de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (10)

       continuação....

    A discussão de algumas questões fundamentais da Poesia Contemporânea e da Arte Moderna - como o verso livre ou a arte pura - se esclarece melhor quando posta sob a égide da Música. Vejamos, à guisa de exemplo, como aborda na Estética, esses dois problemas.
     No primeiro caso, como justifica o verso livre ocasionalmente, a partir da discussão sobre o ritmo - O que é na verdade esse propalado modelo rítmico?, indaga ele. - Um pequeno agrupamento de valores temporais hierarquizado por um acento principal, como quer Closson? Mas será necessário incluir na definição de ritmo e elemento temporal? Pois a ideia de repetição não é congenial à música, foi herdade das artes tradicionais, de cuja lição os teoristas musicais não souberam se libertar: aceita-la é negar o ritmo ao contochão, à melodia infinita, a inúmeros gestos coreográficos que não apresentam um só elemento de repetição. É negar ritmo  ao verso livre que, no entanto, "é tão organizado como o metrificado, embora seja movimento livre, interior, do poeta". - Não seria mais acertado substituir a ideia de periodicidade pelo elemento expressivo? Com isso chegaríamos a uma definição mais abrangente, capaz de englobar a música e a poesia: "Ritmo é toda e qualquer organização expressiva do movimento".
                             continua na próxima postagem....

Extraído de Caderno de Sábado
Jornal da Tarde
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde
pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"
 

sábado, 4 de junho de 2016

UMA BREVE PAUSA.....



                                     Uma breve pausa....
                                     Na próxima semana,
                                     Nos dias: 
                                     11 e 12 de junho não postarei....
                                    
                                     Voltarei a postar nos
                                     Dias: 18 e 19 de junho....

                                                                       yosinoli
                                                                    junho/2016

sexta-feira, 3 de junho de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (09)

                              continuação....

          E no entanto encontra-se na mesma disposição de ânimo em que, bem mais tarde, irá retratar o jovem compositor de O Banquete: sente-se sozinho. Vê com melancolia que escreveu no vago, tentou no vago, se defendeu no vago, estudou no vago e agora se defronta com a obra-de-arte que criou - e ama acima de tudo - sem poder avalia-la, porque os elementos de que se serviu não são garantidos pela tradição. E se ainda conserva a convicção das suas ideias, já não tem nenhuma certeza das realizações em que se transcreveu. - Onde encontrar apoio?
            Imaginemos que nesse momento de perplexidade e solidão, tenha ocorrido a nosso autor buscar refúgio na Música. Desde cedo, por deformação de ofício habituou-se a pensar as várias manifestações artísticas de acordo com a ordenada sistematização musical. Tem um temperamento socrático, gosta muito de ensinar e quando leciona acha fácil dialogar com os alunos consigo mesmo, recapitulando as incertezas, reformulando os conceitos, enfrentando os riscos inevitáveis da afirmação e da dúvida. Dar aula não difere muito de escrever cartas, sobretudo quando já se habituou a varar a noite se correspondendo com os amigos, oferecendo generosamente aos mais jovens a sua experiência. A elaboração do compêndio, que agora se impôs, veio reafirmar nele o senso dos problemas, a convicção de que não se ensina Música, se ensina Arte. E para quem viveu desde moço na fronteira das artes é sempre possível, levando em conta a capilaridade das questões, deslizar insensivelmente de um domínio para outro. Ele mesmo já utilizou em escritos teóricos anteriores - no "Prefácio Interessantíssimo" e em A Escrava que não era Isaura - conceitos musicais bem fixados como "harmonismo", "polifonismo", "sincronismo" para caracterizar certos processos correntes em alguns poetas modernos.
                        continua na próxima postagem...
 
Texto extraído de "Caderno de Sábado"
"JORNAL DA TARDE"
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde
pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"