O texto que temos em mão é bem composto, em certo aspectos muito pessoal e, como foi conservado cuidadosamente por Mário de Andrade, dever ter servido de referência para estudos posteriores. Mas não se pode considerar os seis capítulos que deixou redigidos como uma versão definitiva. A escrita é clara mas incolor e comparada à escrita cuidadosa e cheia de achados expressivos de outros trabalhos da mesma época, ainda parece provisória. Trata-se, contudo de um documento precioso de sua atuação no magistério e da ordenação que, naquele momento, estava dando às ideias.
O primeiro ponto a chamar a atenção é a acentuada conotação psicológica dos apontamentos, a mescla inesperada de psicanálise e fenomenologia, que tem como apoio constante o conceito básico de sublimação. O curioso é que nessa Estética "fundada no amor e na relatividade da verdade humana" o nacionalismo, que ocupara um lugar tão importante na teorização literária anterior, não merece nenhum destaque. É mencionado de passagem, mas para logo ser descartado. Também não há referência à arte empenhada ou de combate, que é a outra preocupação dominante de seu ideário.
E no entanto a Estética representa uma meditação muito pessoal, sobretudo o 5º capítulo, "A Manifestação Musical", no qual vou me deter.
O autor entende como "manifestação musical" não o acontecimento privado, em que o artista concretiza na obra o impulso criador; mas o momento bem mais complexo em que "a obra-de-arte, chegando ao destino a que foi destinada", revela a sua mensagem final, "a mensagem do amigo" - como Mário a designa. O que determina o fenômeno artístico" é a sublimação de um ato de amor".
continua na próxima postagem.....
Texto extraído de "Caderno de Sábado"
JORNAL DA TARDE
Data: Sábado - 6 - 1 - 96
Jornal da Tarde
pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"