Acham que ele está fazendo concessões e não se contenta mais em ser célebre entre os companheiros, quer ser célebre pelo Brasil afora.
Ele concede com melancolia que prefere ficar onde está, "mais perto de Álvares de Azevedo que de Castro Alves", explorando a sua fase inglesa, estudando a poética de certos alemães, de Toller, de Rilke, lendo a Filosofia da Composição de Poe. A Drummond declara que está chegando "a um conceito mais humano de agir e de sentir". E aceita, sem falsa modéstia, a avaliação de Manuel Bandeira "que as coisas que está fazendo diferem das de dantes e que se estas eram mais apaixonantes as agora são mais admiráveis". Mas apesar de tudo não consegue disfarçar o remorso, vendo-as "enormemente gratuitas", depois que lhes tirou as cores de anúncio, com que funcionavam dentro de uma nacionalidade.
Em janeiro de 1928, seis anos depois da arrancada heroica do modernismo, Mário de Andrade é um homem confuso, dividido entre a expectativa dos companheiros e as suas próprias convicções, entre os problemas da funcionalidade da arte e o direito de se entregar livremente à realização pessoal. Ultimamente tem meditado muito sobre a Poesia, mas perdeu a confiança antiga, que havia demonstrado na teorização da mocidade.
Agora nada o satisfaz, "nem o verso livre nem aquele exteriorismo representativo que caracterizou o que de melhor deu a poesia modernista entre nós". Está numa incapacidade total de julgar o que está fazendo e, ao mesmo tempo, insatisfeito com o juízo que passam ter de sua obra. Acredita ter atingido com a fase artífice, "invisível" de "Louvação da Tarde" e dos "Poemas da Negra" "o que de mais perfeito e legítimo fizera até aquele momento".
continua na próxima postagem......
Texto extraído de "CADERNO DE SÁBADO"
JORNAL DA TARDE
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde
pertencia ao
jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO"