sábado, 28 de maio de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (08)

               continuação.....

   Acham que ele está fazendo concessões e não se contenta mais em ser célebre entre os companheiros, quer ser célebre pelo Brasil afora.
    Ele concede com melancolia que prefere ficar onde está, "mais perto de Álvares de Azevedo que de Castro Alves", explorando a sua fase inglesa, estudando a poética de certos alemães, de Toller, de Rilke, lendo a Filosofia da Composição de Poe. A Drummond declara que está chegando "a um conceito mais humano de agir e de sentir". E aceita, sem falsa modéstia, a avaliação de Manuel Bandeira "que as coisas que está fazendo diferem das de dantes e que se estas eram mais apaixonantes as agora são mais admiráveis". Mas apesar de tudo não consegue disfarçar o remorso, vendo-as "enormemente gratuitas", depois que lhes tirou as cores de anúncio, com que funcionavam dentro de uma nacionalidade.
     Em janeiro de 1928, seis anos depois da arrancada heroica do modernismo, Mário de Andrade é um homem confuso, dividido entre a expectativa dos companheiros e as suas próprias convicções, entre os problemas da funcionalidade da arte e o direito de se entregar livremente à realização pessoal. Ultimamente tem meditado muito sobre a Poesia, mas perdeu a confiança antiga, que  havia demonstrado na teorização da mocidade. 
     Agora nada o satisfaz, "nem o verso livre nem aquele exteriorismo representativo que caracterizou o que de melhor deu a poesia modernista entre nós". Está numa incapacidade total de julgar o que está fazendo e, ao mesmo tempo, insatisfeito com o juízo que passam ter de sua obra. Acredita ter atingido com a fase artífice, "invisível" de "Louvação da Tarde" e dos "Poemas da Negra" "o que de mais perfeito e legítimo fizera até aquele momento".
                      continua na próxima postagem......
 
Texto extraído de "CADERNO DE SÁBADO"
JORNAL DA TARDE
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde
pertencia ao
jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO"

sexta-feira, 27 de maio de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (07)

              continuação.....

Além disso o problema da língua não era apresentado de maneira impositiva e uniforme, mas por etapas e em vários níveis. Macunaíma  e Amar Verbo Intransitivo,  por exemplo, lançados quase no mesmo tempo devido a dificuldades editoriais, eram experiências complementares que deviam ser lidas como um díptico. Mas a presença  muito forte e mesmo avassaladora do primeiro livro acabou eclipsando completamente a mistura de teoria e psicologismo, as inovações requintadas de  técnica narrativa, - enfim "o humorismo comentador" do segundo livro, - como o definia muito bem o autor. Quanto às experiência de linguagem, convém lembrar que era a primeira vez que se fazia sair "da pena direta do romancista e não da boca dos personagens (...) erros diários de conversação, idiotismo brasileiros, pronomes oblíquos começando a frase. Não por maluquice e para divertir o leitor, mas para forçar a sistematização da nossa fala".
      O desentendimento entre os amigos, como era de se esperar prosseguia diante novo conceito de poesia manifestado na "Louvação da Tarde". Excentuando-se Manuel Bandeira, que logo aderiu àquela fatura forte em que o verso livre vinha medido como num poema parnasiano - ("Que ordem viril eu botei na minha sensibilidade inquieta!" exclamava o autor, convicto do próprio acerto)- excetuando-se Manuel, a incompreensão foi geral. Acostumados ao brilho exterior, à pândega, aos efeitos dos poemas nacionalistas - "Carnaval Carioca", "Noturno de Belo Horizonte", " O poeta come amendoim" - os modernistas não se entregam ao lirismo calmo e profundo, à "ardência como que escondida" do "poetinha menor", - que é como Mário ironicamente se  autodefine  nessa nova fase.
                                               continua na próxima postagem.....
 
Texto extraído de Caderno de Sábado
"JORNAL DA TARDE"
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde
pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"
 
 

sábado, 21 de maio de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (06)

                 continuação.....

         "Pois esse tal de brasileirismo está me fatigando um bocado, de tão repetido e aparente. Sou brasileiro é frase que me horroriza, palavra. Também publico o Macunaíma que já está feito e não quero mais saber de nacionalismo de estandarte. Meu espírito é que é por demais livre para acreditar no estandarte. E por aí você vai percebendo quanto me sacrifico em mim pela arte de ação que me dou, que me interessa mais, tem mais função humana e vale mais que eu. Mas agora a ação já está feita e o que carece é a contra-ação porque o pessoal engoliu a pílula e foi na onda com cegueira de carneirada. Confesso que quando me pus trabalhando pró-brasilidade complexa e integral (coisa que não se resume como tantos imaginaram ao trabalho da linguagem) confesso que nunca supus a vitória tão fácil e o ritmo pegavel. Pegou. Eu estava disposto a dedicar a minha vida pro trabalho. Bastaram uns poucos anos. Tanto melhor, vamos em frente?"
         O conceito de brasilidade de Mário de Andrade era complexo e integral, mas impediu que um de seus alvos - a pesquisa de linguagem - se transformasse em motivo de discórdia dentro do grupo modernista. Nenhum dos companheiros aceitava sem reserva a sistematização da fala brasileira que ele procurava impor, e provavelmente  só Manoel Bandeira continuava lendo e discutindo, com disciplina e lucidez, os prefácios e notas que acrescentava aos trabalhos.
                                              continua na próxima postagem.....
 
Texto extraído de "CADERNO DE SÁBADO"
Jornal da Tarde
Data: Sábado - 6-1-96
Pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"

sexta-feira, 20 de maio de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (05)

                     continuação.....
    
        Agora é possível focalizá-lo - como faz a primeira fotografia - no espaço acanhado do ganha-pão, exercendo disciplinadamente o seu ofício. É um jovem professor, tímido, no início da carreira, que, por excesso de escrúpulo e incapacidade de improvisação, habituou-se a redigir as aulas, uma por uma. Não sabemos como eram as lições do Conservatório, mas as do curso particular que a aluna Carmem Boreli copiou com caligrafia impecável, repetem com fidelidade a parte da Estética Musical que ele deixou redigida. É provável que se trate do mesmo texto, mas isso não indica que o considerasse pronto para a publicação. Em 1925 comunica a Manoel Bandeira que o livro vai indo rapidamente e os quatro capítulos iniciais seguirão logo para o amigo opinar. O conjunto lhe parece interessante, pois as lições , apesar de vinculadas às atribuições didáticas, acabaram revelando "certas vistas novas ou pelo menos renovadas que lhe dão caráter curioso".
         Premido pelas tarefas didáticas e pela variedade dos interesses, está tomado de "verdadeira fúria de saber". Não tem arte que não ame e cujos problemas não o preocupem. Para suprir as deficiências de uma formação autodidática, estuda ao mesmo tempo muita psicologia, estética, filologia, línguas, filosofia, sociologia, etc. etc. E ainda está absorvendo a informação recente da cultura alemã, o encontro perturbador com a psicanálise. É conveniente abrir um parêntese para que se entenda melhor este período difícil de ruptura e de reformulação dos valores, em que o nacionalismo será uma das pedras de toque.
        A crise do nacionalismo - se é que possa chama-la assim - vem se arrastando há algum tempo e no momento da publicação de Macunaíma já atingira em cheio o nosso autor, como se pode constatar pela carta de 28 de fevereiro de 1928, escrita por Carlos Drummond de Andrade:
                                   continua na próxima postagem.......
 
Texto extraído de CADERNO DE SÁBADO
JORNAL DA TARDE
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde
Pertencia ao jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO"
 

sábado, 14 de maio de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (04)

                              continuação.....

           Mário de Andrade figura nos dois grupos e isso é significante. O destino acaba de lança-lo no centro de um rodamoinho, onde se vê disputado por uma instituição tradicional e mesmo retardatária e um movimento revolucionário e escandaloso. Em março, durante o carnaval, escreve a madrinha que descansa em Araraquara, procurando tranquiliza-la contra a assuada do Municipal: "Assim como as vaias chegam, as honras também chegam. Estou professor catedrático do Conservatório, consideradíssimo lá dentro, tenho uma boa roda de amigos, sou feliz. "Desta vez a fórmula, que em geral sabe cunhar com perícia, não soa muito adequada à situação: o escândalo da Semana lhe acarreta a perda total dos alunos de piano e um baque de dois contos de réis no orçamento mensal. Quanto ao Conservatório, só não o dispensava porque o cargo que acabava de ocupar era vitalício.
         Aos poucos a fama de bom professor e o prestígio junto aos alunos amortecem o temor das famílias e pela altura de 1924 já está reequilibrando as finanças através de um curso particular de Estética e História da Música, dado a um grupo de moças. Algumas delas conservaram ao ao longo dos anos os cadernos de notas onde copiaram com capricho os pontos fornecidos pelo mestre. Estes documentos, a correspondência com Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, o manuscrito precioso que Flávia Camargo Toni está nos apresentando permitem recuperar, não só um pouco, mas uma fase pouco conhecida de nosso autor: a sua atuação no magistério.
                               continua na próxima postagem......
 
Texto extraído do JORNAL DA TARDE
- CADERNO DE SÁBADO-
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde
Pertencia ao "O ESTADO DE SÃO PAULO"

sexta-feira, 13 de maio de 2016

ORDEM E PROGRESSO.....

                                            


                             " ORDEM E PROGRESSO "

                     -Lema inscrito na bandeira Nacional-

                              Vamos acreditar......

               Depois de uma certa turbulência política
                               Que atingiu o país
                       Durante esses últimos longos
                                    Meses
                               
                             Vamos torcer.....
                             Que aconteça....
                      
                 -ORDEM E PROGRESSO-
                         
                                                         yosinoli
                                                       maio/2016
             

                                      

                                      
                       

sábado, 7 de maio de 2016

ÀS MAMÃES!......

                              PARABÉNS..... MAMÃES.......
                              
                              Hoje,
                              Dia 08 de maio...
                              DOMINGO.....
                             
                              DIA DAS MÃES,
                              Parabéns......
   
                              Às mamães
                              Do Brasil e do Mundo,
                              Parabéns......
                              
                              Parabéns......

                              Parabéns....

                             FELIZ DIA
                             DAS MÃES.....

                                                                                                yosinoli
                                                                                              maio/2016
                                                                           

sexta-feira, 6 de maio de 2016

MÁRIO DE ANDRADE E A MÚSICA (03)

                           continuação.......

            A fotografia dos modernistas mostra-os, ao contrário, muito à vontade. A composição se dispõe num triângulo isósceles de grande horizontalidade, tendo na ponta inferior Oswald de Andrade e mais ao alto e no centro a "autoridade intelectual e tradicional" de Paulo Prado - como Mário o designa em seu célebre escrito sobre o Movimento Modernista. A distribuição dos retratados é casual, não se sente nenhuma preocupação de pose na atitude dos corpos. Oswald, no primeiro plano, sentado no chão, segura com uma das mãos o pé esquerdo e com a outra empunha com naturalidade o charuto. Couto de Barros, na extrema esquerda, compõe uma figura enérgica, as pernas afastadas, as mãos cruzadas nas costas. As mãos, em geral tão sensíveis quando nos sentimos observados, não revelam constrangimento, estão no bolso, nas costas, sobre a guarda da cadeira, empunhando o cigarro à altura do peito, livres ao longo do corpo. Nem todos estão de escuro. Oswald, muito elegante, enverga um jaquetão e calças, eu creio, de veludo cinzento. Quatro dentre eles vestem ternos mesclados, de lã. E embora três pareçam mais conservadores que os demais em seus colarinhos duros de pontas quebradas, os restantes usam camisas comuns. As gravatas são na maioria longas, mas já pousam aqui e ali quatros gravatinhas borboletas, anunciando a voga que, logo mais, o Partido Democrático irá difundir.
                              continua na próxima postagem.....
 
Texto extraído de "Caderno de Sábado"
JORNAL DA TARDE
Data: Sábado - 6-1-96
Jornal da Tarde pertencia ao jornal
"O ESTADO DE SÃO PAULO"