sábado, 31 de outubro de 2015

O QUE NÃO SABEMOS (06)

                  continuação........

          No início do século 19, um erudito de Reims conseguiu obter um conjunto considerável de manuscritos inéditos relativos a Maucroix. Era uma coisa. Mas não o suficiente. As famosas cartas não faziam parte do lote. Sobre La Fontaine, descobrimos até hoje, não obras, mas fragmentos de contratos, atos de tabeliões, que permitem reconstituir o pano de fundo prático de sua vida: onde ele ficava? De que recursos dispunha? No caso, são aspectos menores, mas amanhã eles podem nos reservar outras descobertas, outras surpresas. Como diz a máxima: "A verdade é filha do tempo."
 
Cumplicidades - Existem também peças que faltavam, nas quais não temos nenhuma esperança de descobrir o menor traço escrito, o menor testemunho. Nessas zonas de sombra, temos contato com fenômenos de ordem humana: cumplicidades tácitas, acordos orais, apertos de  mão fugidios...Sabemos que La Fontaine caiu em desgraça diante de Luís 14 por sua fidelidade corajosa a seu amigo e mecenas Nicolas Fouquet, condenado ignominiosamente por um tribunal de exceção.
            Mas a poderosa amante do rei, madame de Montespan, protegeu-o após 1668. Ele, pequeno poeta sem a importância que lhe atribuímos hoje em dia, foi introduzido, na ponta dos pés, pelas portas do poder. Em que condições ele encontrou a marquesa? Por que ela se ligou a La Fontaine?
                             continua na próxima postagem.......
 
Extraído de "Caderno 2"
ESPECIAL * DOMINGO
Data: ANO IX NÚMERO 3.136 - DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1995
Jornal: "O ESTADO DE S. PAULO"

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O QUE NÃO SABEMOS (05)


O BOM RETORNO À SENSIBILIDADE

O saber não pode ser imóvel, fixo numa verdade definitiva. Porque se limitar ao depoimento escrito, àquilo que é provado por um documento, poderia ser também um princípio redutor de compreensão.
                                                                  MARC FUMAROLI
                                                                                  #
                                                          HISTÓRIA DA LITERATURA

Todo saber honesto começa com uma confissão de ignorância. Com um ato de humildade. Todo saber é comparável, no fundo, a um queijo gruyère. Mas os buracos do saber são móveis.
     Uma descoberta inesperada pode modificar - às vezes de maneira substancial - o que se acredita saber antes. Um exemplo concreto: Jean de la Fontaine. temos algumas cartas que comprovam uma correspondência quase diária entre La Fontaine e François Maucroix, seu amigo durante toda a vida. Eles trocavam pontos de vista extremamente variados sobre toda espécie de assuntos, particularmente sobre suas obras em curso. Eles foram juntos à escola, em Château-Thierry. Sacerdote da catedral de Reims, Maucroix era brilhante, muito sutil. É certo que, se nós encontrássemos essa correspondência íntima, todas as análises que fizemos até agora sobre o sentido oculto das fábulas, sobre as segundas intenções políticas de La Fontaine seriam sem dúvida esclarecidas de modo definitivo, ou então seriam completamente derrubadas.
     Tudo o que escrevemos pode ser, de um dia para outro, desmentido ou, em todo caso, profundamente revisado. Será que essas cartas foram destruídas? É possível. Nós guardamos pouquíssimos documentos íntimos sobre os escritores até a segunda metade do século 18. Por humildade, também por prudência, a maioria deles fazia desaparecer seus rascunhos, parte mais pessoal de sua correspondência. Não vejo a hora de esse documento reaparecer um dia, mas sabe-se lá.  
                               continua na próxima postagem.....

Extraído de "CADERNO 2"
ESPECIAL * DOMINGO
Data: ANO IX NÚMERO 3.136 - DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1995
Jornal: "O ESTADO DE S. PAULO"

sábado, 24 de outubro de 2015

O QUE NÃO SABEMOS (04)

              continuação (03)......
        Deus sabe de tudo. Daquele que tudo sabe não podemos saber nada, nem mesmo se Ele sabe tudo ou se há alguma coisa que Ele ainda não saiba. No espaço e no tempo, não há nada de impossível ao poder do espírito. Mas, fora do espaço e do tempo, existem limites ao seu saber.
        Percebe-se a riqueza de um tema que se situa no próprio coração do movimento da ciência e do impulso dos espíritos em direção ao que continua oculto para eles. O que não se sabe é um imã muito poderoso, uma tarefa infinita, uma das molas principais do desejo dos homens. Nos Encontros Filosóficos da Unesco tomaram parte alguns dos mais eminentes pesquisadores e sábios de diferentes regiões culturais do mundo. Como um prolongamento destes encontros, como um eco à questão posta aos candidatos ao bacharelado, como uma homenagem aos ciumentos, aos detetives, aos curiosos da ordem do mundo, aos amantes da verdade, L'Express interrogou universitários e intelectuais franceses a respeito do que os espera em seus domínios, do que não se não se sabe ainda e do que se saberá amanhã. Porque longe de fornecer a ocasião para uma espécie de festa da ignorância a perguntas "O que é que não se sabe?" fornece antes de tudo o cenário para uma celebração do saber.
 
# Jean D'Ormesson, 70 anos, jornalista, escritor, romancista, cronista e ensaísta francês de grande sucesso, é membro da Academia Francesa de Letras e sócio-correspondente, desde dezembro de 1982, da Academia Brasileira de Letras. Viveu no Rio, dos 11 aos 14 anos, entre 1936 e 1938, período em que seu pai, o marquês André D'Ormesson, foi embaixador da França no Brasil. Formado em filosofia pela École Normale Supérieure, especializou-se na obra do filósofo Spinoza. Dentre seus livros destacam-se "La Gloire de l'Empire" e "Au Revoir et Merci", livro de memória, em que traça um inventário de sua geração. De sua vida no Rio, ficaram recordações de uma cidade romântica e poucas palavras do português fluente que chegou a falar.
               continua na próxima postagem..........
 
Extraído de "CADERNO 2"
ESPECIAL * DOMINGO
Data: ANO IX NÚMERO 3.136 - DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1995
Jornal: " O ESTADO DE SÃO PAULO "  

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O QUE NÃO SABEMOS (03)

          continuação da postagem anterior (02)......

                 Ele a ultrapassa por todos os lados. Como ultrapassa também a ciência. O detetive em busca de indícios, o ciumento, que arde de vontade de conhecer como o objeto de sua paixão e de suas suspeitas emprega o tempo, ilustram à sua maneira a familiaridade com aquilo que não se sabe. Como o biólogo e o físico nuclear, cada um de nós vive permanentemente em contato com o que ignora e está sempre preocupado com isso.
                  O saber dos homens não cessa de crescer jamais. Sabemos mais sobre quase tudo - não sobre tudo, sem dúvida, porque ainda há técnicas e comportamentos que se esquecem, mas sobretudo quase tudo - que nossos bisavós, que sabiam mais sobre o Universo que os humanistas da Renascença, que por sua vez sabiam mais que os juristas romanos ou os geômetras gregos. Mas o mais interessante é que o que não se sabe se abstém cuidadosamente de diminuir à medida em que incha a massa do que se sabe. Por um mecanismo digno de interesse, o que continua oculto a nossos olhos cresce ao mesmo tempo em que aumente o que é posto à luz do dia. Quanto mais se sabe das coisas, mais se ignora. Poderia dizer-se que o saber não para de levantar questões ainda não resolvidas e de gerar a ignorância.
                  Existe todo um setor do que não se sabe ao qual é proibido ligar a palavra ainda. Ao lado do que ainda  não se sabe e que se saberá talvez um dia, esconde-se com muita obstinação o que não se saberá jamais, o que jamais se poderá saber. Amanhã, não duvidemos, saberemos mais e mais sobre a Aids, sobre os buracos negros, sobre a origem da vida e dos homens, sobre o Universo, sobre o combate contra a morte, sobre tudo  que se passa no espaço e no tempo. Não saberemos jamais nada a respeito do que acontece depois da morte, nem se realmente acontece alguma coisa, a respeito do que havia antes do Universo e sobre o que haverá depois, a respeito do que está fora do espaço, do que está fora do tempo.
                                        continua na próxima postagem.......
 
Texto extraído de "CADERNO 2'
ESPECIAL * DOMINGO
Data: ANO IX NÚMERO 3.136 - DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1995
Jornal " O ESTADO DE SÃO PAULO "
 
 
 

domingo, 18 de outubro de 2015

O QUE NÃO SABEMOS (02)

           continuação da postagem anterior

          A questão assim colocada é por, excelência, interdisciplinar e transdisciplinar: da Aids à astrofísica, da pré-história à arqueologia ou à economia política, o processo está em curso em todos os setores do saber. "O que é que não se sabe?" é o tipo de interrogação que atinge indiretamente todos os domínios da ciência. Na minha opinião, é por isso que Federico Mayor, diretor geral da Unesco, escolheu essa pergunta. Ele atendeu a sugestão de Ayyam Wassef, que está na origem do projeto, para tema de seus Encontros Filosóficos da Unesco, que se realizaram recentemente, com grande sucesso, na Praça de Fontenoy, em Paris. Sob a direção de Judith Schlangwer, professora da Universidade Hebraica de Jerusalém, a revista Diogène, que tem versões paralelas em diversas línguas, publicou sob este tema um número especial. A editora Gallimard lhe consagrou um volume de sua coleção Dèconvertes, a ser lançada no final do ano. As academias de Bourdeaux, de Toulouse, de Montepellier, de Aix-Marseille, de Nice, acabam de propor aos candidatos ao bacharelado de filosofia uma pergunta que resulta com toda a evidência deste mesmo problema: "Existe um intermediário entre o saber e o ignorar?" Como tratar desse assunto? Talvez por exemplo (e não se desesperem os candidatos que escolheram outro itinerário), partindo de Platão e de Montaigne, que, cada qual à sua maneira, lançam uma ponte entre os dois continentes isolados do saber e do não-saber. Platão, sustentando que o que não se sabe, na realidade, já se sabe e confiando à "maiêutica" o cuidado de fazer o discípulo perdido dar à luz a verdade esquecida. Montaigne, garantindo que o que já sabe não se sabe muito bem - ou talvez não se sabe absolutamente. Restabelecida assim paradoxalmente a circulação entre um saber e uma ignorância, menos distantes entre si que se poderia crer, a ciência, a bordo do frágil e possante barco da pesquisa, sempre açoitado pelas ondas, progride, a meio caminho entre as terras conquistadas do saber e a "terra incógnita" da ignorância, sobre as águas intermediárias do que ainda não se sabe. E, na Grã-Bretanha no Canadá, nos Estados Unidos, no Brasil, um pouco em toda a parte no mundo, pesquisadores e jornalistas manifestam curiosidade e interesse por este exercício filosófico que ultrapassa a filosofia.
                         continua na próxima postagem.....

Extraído de CADERNO 2
ESPECIAL * DOMINGO
ANO IX NÚMERO 3.136 - DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1995
Jornal: "O ESTADO DE S.PAULO"


 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O QUE NÃO SABEMOS ( 01 )


O QUE NÃO SABEMOS

     A revista francesa ""L'Express" convidou 16 sábios para, nas mais variadas áreas do conhecimento humano, responder à seguinte questão: o que não sabemos? O resultado foi um conjunto de artigos brilhantes, que, longe de fornecer ocasião para uma espécie de festa da ignorância, pintou o cenário perfeito para uma celebração do saber:  O "Caderno 2 Especial" reproduz esses artigos e conclui que existe um movimento contínuo e incansável da ignorância para o conhecimento
                                    JEAN D'ORMESSON
        Já é arriscado falar sobre o que se sabe. Desde a interrogação socrática até Jean Gabin, que canta Je sais que je ne sais rien (Sei que não sei nada), passando pela dúvida metódica de Descartes e por Montaigne e sua célebre frase Que sais-je? Que sei eu?), uma longa tradição lança sobre o saber uma sombra de suspeita. Que dizer a respeito do que não se sabe? Nada, naturalmente. Não é preciso nem mesmo falar sobre isso. "É preciso calar a respeito daquilo que não se pode falar", afirma, numa célebre fórmula, o filósofo austríaco Wittgenstein. Parece que a gaveta do que não se sabe deva ser trancada novamente antes mesmo de ser aberta. É impossível fazer qualquer registro.
          Contudo, desde seus inícios, a aventura humana não foi outra coisa senão um progresso do saber e uma invasão incansável do que não se sabe por aquilo que se sabe. O que é distingue Lucy e nossos longínquos ancestrais da África Oriental do Homo sapiens sapiens e de seu orgulhoso balbucio a não ser uma acumulação contínua de saber? A maneira da conquista dos polders sobre o mar nos Países Baixos, o saber é conquistado sobre o não-saber. A marcha da história se confunde com uma lenta vitória - que jamais terminou - do que já se sabe sobre o que ainda não se sabe.
           A palavra decisiva nesta aventura é a palavra ainda. O que hoje ainda não se sabe, se saberá amanhã. Existe um movimento contínuo e incansável da ignorância para o conhecimento. O que não se sabe cessa de ser um nada obscuro e vazio no momento em que é colocado em relação com o que já se sabe e com o que se busca. É possível falar a respeito do que não se sabe, por que a pergunta " o que é que não se sabe? " está inteiramente do lado da pesquisa - isto e, não do lado da ignorância, mas do lado do saber. É uma batalha de fronteiras. O saber e o não-saber se atraem, magnetizam-se mutuamente e a ignorância, em todas as frentes não cessa de recuar diante do progresso do saber.
                               continua na próxima postagem........

Texto extraído de CADERNO 2
ESPECIAL * DOMINGO
De " O ESTADO DE S. PAULO "
DATA: ANO IX 3.136 - DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1995

 

domingo, 11 de outubro de 2015

VAMOS CANTAR?!.....


                             Viva Mãe de Deus e nossa
                               J. Vicente Azevedo
                      

                            Viva Mãe de Deus e nossa,/ sem pecado concebida!/ Viva, Virgem Imaculada! Ó Senhora Aparecida!
                          
                            1. Aqui estão vossos devotos,/ cheios de fé incendida,/ de conforto e de esperança,/ ó Senhora Aparecida.
 
                              2. Virgem Santa, Virgem Bela,/ Mãe amável, Mãe querida,/ amparai-nos, socorrei-nos,/ ó Senhora Aparecida!
 
                               3. Protegei a Santa Igreja,/ Mãe terna e compadecida!/ Protegei a nossa pátria,/ ó Senhora Aparecida!
                                                                                     pag. 64
 
Letra extraída da Novena e Festa
    PADROEIRA DO BRASIL
Com Maria, em Jesus, Chegamos à Glória!
                           3 a 12
                     outubro 2015
SANTUÁRIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA
 

sábado, 10 de outubro de 2015

CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA


                       CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA
 
                      Ó Maria Santíssima, pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, em vossa querida imagem de Aparecida, espalhais inúmeros benefícios sobre todo o Brasil.
                      Eu, embora indigno de pertencer ao inúmero de vossos filhos e filhas, mas cheio do desejo de participar dos benefícios de vossa misericórdia, prostrado a vossos pés, consagro-vos o meu entendimento, para que sempre pense no amor que mereceis. Consagro-vos a minha língua, para que sempre vos louve e propague a vossa devoção. Consagro-vos o meu coração para que, depois de Deus, vos ame sobre todas as coisas.
                      Recebei-me, ó Rainha incomparável, vós que o Cristo crucificado deu-nos por Mãe, no ditoso número de vossos filhos e filhas. Acolhei-me debaixo de vossa proteção!
                      Socorrei-me em todas as minhas necessidades, espirituais e temporais, sobretudo na hora de minha morte.
                      Abençoai-me, ó celestial cooperadora, e, com vossa poderosa intercessão, fortalecei-me em minha fraqueza, a fim de que, servindo-vos fielmente nesta vida, possa louvar-vos, amar-vos e dar-vos graças no céu, por toda eternidade.
Assim seja!
                                                                                   pag. 4
 
Extraída da:
Novena e Festa
Padroeira do  Brasil
Com Maria, Em Jesus, Chegamos À Glória
3 a 12
Outubro 2015
SANTUÁRIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA