No início do século 19, um erudito de Reims conseguiu obter um conjunto considerável de manuscritos inéditos relativos a Maucroix. Era uma coisa. Mas não o suficiente. As famosas cartas não faziam parte do lote. Sobre La Fontaine, descobrimos até hoje, não obras, mas fragmentos de contratos, atos de tabeliões, que permitem reconstituir o pano de fundo prático de sua vida: onde ele ficava? De que recursos dispunha? No caso, são aspectos menores, mas amanhã eles podem nos reservar outras descobertas, outras surpresas. Como diz a máxima: "A verdade é filha do tempo."
Cumplicidades - Existem também peças que faltavam, nas quais não temos nenhuma esperança de descobrir o menor traço escrito, o menor testemunho. Nessas zonas de sombra, temos contato com fenômenos de ordem humana: cumplicidades tácitas, acordos orais, apertos de mão fugidios...Sabemos que La Fontaine caiu em desgraça diante de Luís 14 por sua fidelidade corajosa a seu amigo e mecenas Nicolas Fouquet, condenado ignominiosamente por um tribunal de exceção.
Mas a poderosa amante do rei, madame de Montespan, protegeu-o após 1668. Ele, pequeno poeta sem a importância que lhe atribuímos hoje em dia, foi introduzido, na ponta dos pés, pelas portas do poder. Em que condições ele encontrou a marquesa? Por que ela se ligou a La Fontaine?
continua na próxima postagem.......
Extraído de "Caderno 2"
ESPECIAL * DOMINGO
Data: ANO IX NÚMERO 3.136 - DOMINGO, 10 DE SETEMBRO DE 1995
Jornal: "O ESTADO DE S. PAULO"