Com toda certeza, a verdade corre as estradas, como o esprit no conhecido provérbio francês, ou como a metáfora - "rainha das figuras de linguagem", segundo os retóricos - que Montaigne reencontrava no "babil" de sua "chambrière". Mas a metáfora da arrumadeira é a solução de um problema expressivo, precisamente dos sentimentos que agitam naquele momento a arrumadeira; e as afirmações óbvias que, de propósito ou por acaso, se ouvem dia após dia sobre a natureza da arte são soluções de problemas lógicos, tais como se apresentam a este ou àquele indivíduo que não se professa filósofo, mas que, ainda assim, enquanto ser humano, é também, em alguma medida, filósofo (...) A afirmação óbvia do não-filósofo resolve um problema superficial em confronto com aquele que o filósofo se propõe. A resposta sobre o que é a arte pode soar semelhante na aparência num e noutro caso, mas diversifica-se nos dois pela diferente riqueza do conteúdo que encerra; porque a resposta do filósofo digno desse nome tem nada mais, nada menos que o propósito de resolver de maneira adequada todos os problemas que surgiram até aquele momento, ao longo da história, acerca da natureza da arte, ao passo que a resposta do leigo, que circula num âmbito também mais limitado, se evidencia impotente fora daqueles limites. Isso tem uma contraprova prática na força do eterno proceder socrático, na facilidade com que os doutos, com suas sequências de perguntas, deixam confusos e boquiabertos os não-doutrinados, que haviam ainda assim começado por dizer coisas corretas, e aos quais durante o interrogatório, postos na iminência de perder até mesmo aquele pouco saber que detinham, não resta outra defesa senão refugiar-se em sua própria carapaça, declarando que não gostam de "sutilezas".
continua na próxima postagem.....
Texto extraído de "Caderno de Sábado" - Jornal da Tarde -
Data: Sábado - 24-5-97.
O jornal pertencia ao "O ESTADO DE SÃO PAULO".
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Data: Sábado - 24-5-97.
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