domingo, 29 de março de 2015

AINDA GUIMARÃES ROSA (04).....

continuação....
       Tenho observado que esse reaproveitamento é maior em Ave, Palavra, cujas narrativas curtas são, em sua maioria, crônicas de viagens. Passagens das cadernetas foram desconstruídas  e dos fragmentos surgiram novos textos. Nota-se que, às vezes retalhados e desconstextualizados, os elementos do registro permanecem, recriados ou não.
         As pesquisas demonstram que cadernos e cadernetas de escritores em geral não se destinam à publicação. Não se constituem em peças literárias, embora possam conter a semente, o germe de obras literárias. São uma etapa bem particular da gênese, um lugar de nascimento da criação ficcional que, como diz Luis Hay, estabelecem a mediação entre obra e o mundo. O refazer paciente e persistente testemunha que o trabalho criador não é fruto apenas da inspiração, mas de muito esforço, muita pesquisa, muito trabalho.
 
                                                               N O T A S
TRABALHOS REALIZADOS:
-Guimarães Rosa alquimista: processo de criação do texto-Maria Célia de Moraes Leonel. (Doutorado)
-Estudo da Metalinguagem Natural em Guimarães Rosa - Edna Maria F.S.Nascimento (Doutorado).
-Bicho Mau, a gênese de um conto - Maria Neuma B. Cavalcante (Doutorado).
-Enigma no nó da imagem: os módulos poéticos no "conto crítico" rosiano - Héctor Olea (Doutorado)
-Baú de alfaias - Sandra Gardini T.de Vasconcelos (Mestrado).
-J.Guimarães Rosa: correspondência inédita com a tradutora norte-americana Harriet de Onis (Mestrado).
-João Guimarães Rosa: homem plural escritor singular - Lenira Marques Covizzi e Edna Maria F.S.Nascimento (Publ.Ed.Atual).
-Gênese dos contos de Tutaméia - Katia Bueno Romanelli (Doutorado)
-Da raiz à flor - curso de difusão cultural.
-Conflluências: trilhas de vida e de criação - exposição organizada pela Profª. Cecília de Lara e atualmente percorrendo universidades francesas.

TRABALHOS EM ELABORAÇÃO:
-Elizabeth Ziani, Cleuza Martins de Carvalho e Rosemarie Cauzavara estudam, respectivamente, as narrativas inacabadas "Remimento", "A Fazedora de Velas" e "Imperador", para dissertações de Mestrado.

Maria Neuma B.Cavalcante, doutora em letras pala USP, é supervisora do setor de publicações do IEB e coordenadora do Projeto de Organização, exploração e divulgação do Arquivo João Guimarães Rosa.

Texto extraído do jornal "JORNAL DA TARDE"
Caderno de Sábado
Data: Sábado - 6-1-96
O Jornal da Tarde pertencia ao jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO"


 
    

sexta-feira, 27 de março de 2015

AINDA GUIMARÃES ROSA (03)

   continuação...
       Toda esta documentação se encontra acondicionada individualmente em envelopes de papel neutro. Dada a natural perecibilidade do suporte desses documentos (papéis jornal, sulfite, apergaminhado, etc) era indispensável realizar a sua microfilmagem, o que está se fazendo neste momento. Pesquisadores, estudiosos e interessados na vida e na obra de Guimarães Rosa terão, com sempre tiveram, assegurado o direito de consulta ao arquivo, ao mesmo tempo em que se garante a integridade, preservação e prolongamento da vida do documento.
       As pesquisas e trabalhos realizados com esses documentos inserem-se num projeto amplo, elaborado pela Profª. Cecília de Lara, que visa organizar, explorar e divulgar o Arquivo João Guimarães Rosa. São teses de doutorado e monografia de mestrado, comunicações em congressos, artigos, exposições, cursos, seminários, etc. (ver quadro abaixo).
       Como parte desse projeto, venho realizando um trabalho em cinco cadernetas do arquivo, contando para tanto com bolsa da Fundação Vitae. As cadernetas são diários das viagens que Guimarães  fez à Itália em 1949 e 1950 na companhia de sua mulher Araci. Observador e detalhista, Guimarães descreve paisagens, destacadamente árvores e animais. Dos museus visitados, faz observações críticas  de algumas telas, tentando reproduzi-las em desenho. Descreve tipos humanos, observando-lhes os gestos, cacoetes, roupas. A precisão documental é tamanha que registra a data de chegada e saída de cada cidade, informando meio de transporte (trens, ônibus, barco), hotel, número do quarto, cardápios. Vez ou outra anota comentários de d. Araci. 
       Destaques e rasuras a tinta ou a lápis colorido indicam a releitura desse material pelo escritor e a consequente transformação dos diários de viagem em instrumentos de trabalho. Pode-se até mesmo observar o aproveitamento de trechos, expressões e frases em obras publicadas posteriormente.
       As notas das cadernetas não visavam um projeto, uma finalidade imediata, a não ser registrar as emoções e conservar a memória dos lugares visitados. Mesmo assim, poderão constituir-se em embriões, na forma inicial de várias criações literárias. Tanto que o trabalho com elas tem me conduzido a uma pesquisa em toda a obra posterior a 1949.
                         continua na próxima postagem....

Texto extraído do Jornal da Tarde
"Caderno de Sábado"
Data: Sábado - 06-1-96
 

sábado, 21 de março de 2015

Ainda Guimarães Rosa (02)

     continuação da postagem do dia15/03......
   
     A Documentação Pessoal refere-se à vida do escritor como médico e diplomata e será indispensável a um seu futuro biógrafo.
     Os Recortes, recolhidos por Guimarães, são de três ordens: sobre assuntos diversos que revelam os amplos interesses do escritor; sobre a sua obra, o que permite acompanhar a recepção da mesma pelo público e a opinião de estudiosos; e de contos e crônicas publicados em jornais e revistas, muitos deles com emendas e notas marginais que possibilitam acompanhar o processo de criação dos textos, por meio do estudo das modificações ocorridas entre a publicação em periódicos e a edição em livro.
       Os Manuscritos foram classificados em duas subséries: 1. Originais - versões de obras publicadas em vida do escritor (Sagarana, Primeiras Estórias, Tutaméia) e postumamente (Estas Estórias e Ave, Palavra); e de textos em diversas fases de elaboração e do inédito de Magma, volume de poemas que recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras em 1934; 2. Estudos para obras - documentos que envolvem matéria criada ou coletada e que se encontram em 38 pastas, 25 cadernos e 7 cadernetas. Os assuntos são os mais diversos: religião, moda, costumes, línguas, meios de transportes, fauna, flora, acidentes geográficos. Há mapas, desenhos de animais, casas e cenas domésticas; registros de experimentações linguísticas e títulos para contos e livros; longas  listas de topônimos e antropônimos (às vezes os nomes de pessoas são copiados de catálogos telefônicos) e listas de vocábulos em ordem alfabética, que atestam seu gosto por dicionários.
                                                continua na próxima postagem.....

Texto extraído de "Caderno de Sábado" - JORNAL DA TARDE -
Data: 6 - 1 - 96
Jornal da Tarde pertencia ao "O ESTADO DE SÃO PAULO"
                  

sexta-feira, 20 de março de 2015

NÃO HÁ COMO IGNORAR......

                            "A democracia é governo do povo,
                              Pelo povo,
                              Para o povo"
                                                              Abraham Lincoln

                              Foi estimado pela Polícia Militar
                              Mais de um milhão de pessoas na
                              Avenida Paulista
                              Em São Paulo....
                              Para protestar e reivindicar......

                              Foi uma concentração pacífica
                              Envolvendo jovens, adultos-familiares com filhos-
                              Idosos...
                  
                             Também nas cidades do interior de São Paulo,
                             Ocorreram manifestações.....

                             Calcula-se que em todo país, quase dois milhões de pessoas
                             Foram às ruas......

                             Por isso é impossível ficar indiferente
                             Ao
                             Que ocorreu no
                             15/03/2015
                             No Brasil.......
                                                                                                
                             "Pode-se enganar alguns o tempo todo e
                              A todos por alguns tempo,
                              Mas não se pode enganar
                              A todos o tempo todo."
                                                                   Abraham Lincoln

                                                                                      yosinoli
                                                                                    março/2015

                                  
                              

sábado, 14 de março de 2015

AINDA GUIMARÃES ROSA.....



                                   As ideias estéticas, a poética, os estudo de linguagem 
o que pode ser encontrado nos documentos do acervo de Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros da USP
                                               Por Maria Neuma B.Cavalcante
 
 
"Cada pássaro que voa, cada espécie, tem voo diferente. Quero descobrir o que caracteriza o voo de cada pássaro, em cada momento."
    (J.Guimarães Rosa, revista Manchete. Rio de Janeiro, 1963)
 
   O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP) recebeu no dia 18 de dezembro o Prêmio Rodrigo Mello Franco de Andrade, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), na categoria conservação de acervos. Estes acervos reúnem, preservam e divulgam preciosos documentos da cultura brasileira em espaços climatizados e protegidos por modernos sistemas de segurança. O Arquivo contém acervos de intelectuais, artistas e escritores, entre os quais o de João Guimarães Rosa. Tal acervo, comprado pelo IEB das herdeiras de Guimarães em 1973, compreende 3.000 livros, muitos com anotações marginais, e cerca de 12.000 documentos classificados em quadro grandes séries: Correspondência, Recortes, Documentação Pessoal e Manuscritos.
    A Correspondência, estabelecida com tradutores, editores e amigos, é composta por cerca de 1.000 cartas, postais e bilhetes. As cartas recebidas são originais datilografados ou manuscritos, as do próprio Guimarães são cópias carbonadas, algumas com anotações manuscritas e desenhos. Este material é de grande valia para a compreensão das ideias estéticas do escritor, sua poética e estudo da linguagem. É fonte preciosa para o conhecimento do processo de construção da obra, identificação de termos técnicos, científicos, regionais e mitológicos, criação de neologismos, etc.
                         continua na próxima postagem.....
 
Extraído do "Jornal da Tarde"
      -Caderno de Sábado -
Data: Sábado - 6 - 1 - 96
Jornal da Tarde pertencia ao jornal " O ESTADO DE SÃO PAULO "
    

O ANO GUIMARÃES ROSA (02)

       continuação....
       Quando Sagarana foi publicado, o embaixador apaixonado por gatos já havia feito  duas importantes incursões pelo caminho das letras. Entre 1929 e 1930, quando ainda era estudante de medicina em Belo Horizonte, publicou três contos na revista semanal  ilustrada O CRUZEIRO,  do Rio de Janeiro. Os contos  O Mystério de Highmore Hall (7/12/29), Cronos Kai Anágke (21/6/29) e Caçadores de Camurças (17/7/30) já revelavam a paixão pela invenção de palavras, só que a caça aos tesouros das letras era feita em línguas estrangeiras, como o inglês. Só depois de 30 anos Guimarães Rosa descobriria a inegostável fonte do sertão.
        Em 1936 ganhou um concurso da Academia Brasileira de Letras com os 91 poemas de Magma. O livro com os poemas está inédito até hoje e a discussão sobre sua publicação em 1992 foi aquecida por uma tese da pesquisadora de Literatura Brasileira Hygia Therezinha Calmon Ferreira. Em 1938 uma história curiosa envolveria a publicação de Sagarana. Guimarães mandou o livro para um concurso organizado pela editora José Olympio. Estava resolvido que o primeiro colocado teria sua obra publicada pela editora. Um concorrente, com o pseudônimo de Viator, chamou a atenção da banca da qual participava o já consagrado escritor Graciliano Ramos. O autor de São Bernardo leu o calhamaço de quase 500 páginas com ressalvas: alguns contos eram muito bons enquanto outros nem tanto. Resultado: Guimarães perdeu o concurso e o livro só foi publicado bem mais tarde, em 46, por outra editora. O sucesso foi tão grande quanto inesperado. Esgotada a segunda edição, o editor não possuía capital de giro e a editora fechou, vítima do sucesso de Sagarana.
     Dez anos e três edições depois da publicação do livro berço de Augusto Matraga, Guimarães publicou pela José Olympio Corpo de Baile, coletânea de novelas interligadas, na qual é salientada a viagem ao tempo infantil em "Campo Geral". No mesmo ano e pela mesma editora foi publicada a obra máxima do escritor: Grande Sertão: Veredas. O livro causou um enorme impacto nas letras brasileiras, sendo uma das publicações analisadas, combatidas e louvadas da literatura nacional. 
    Nas críticas feitas na época é possível perceber a importância que o escritor adquiriu logo que publicou os livros. O professor Roberto Schwartz ensaiava críticas em 1960 comparando o diálogo de Riobaldo à tosse literária do personagem de Thomas Mann na Montanha Mágica. Antônio Cândido, também professor de literatura, reconhecia a magia da estrutura narrativa do escritor mineiro e dizia: ".... justamente para ressaltar a diferença e mostrar as leis próprias do universo de Guimarães Rosa, cuja compreensão depende de aceitarmos certos ângulos que escapam aos hábitos realistas, dominantes em nossa ficção".
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Joana Monteleone é repórter do Caderno de Sábado

Texto extraído do JORNAL DA TARDE
de: Sábado - 6-1-96
JORNAL DA TARDE pertencia ao "O ESTADO DE SÃO PAULO"
 

domingo, 8 de março de 2015

O ANO GUIMARÃES ROSA

                                     Há 50 anos um médico mineiro desconhecido surpreendia o mundo literário brasileiro com a publicação das criativas e inovadoras histórias de "Sagarana". Dez anos depois, em 1956, o já consagrado escritor editava o literariamente revolucionário romance "Grande Sertão: Veredas"

                                       O ANO DE GUIMARÃES ROSA
Guimarães Rosa                                                                             Uma
       e o vaqueiro                                                                              curiosidade na
        Manuelzão,                                                                              vida literária de
   companheiro e                                                                              Guimarães Rosa:
                 depois                                                                              antes de ser
      personagem,                                                                              publicado, com
 em viagem pelo                                                                              imediato
          sertão das                                                                              sucesso, o livro   
        Gerais: era                                                                              Sagarana
 desse modo que                                                                              perdeu um
            o escritor                                                                              concurso pelo
mineiro buscava                                                                              voto contrário
         material de                                                                              de Graciliano
                criação                                                                              Ramos

                                             A magia com as palavras
                      O amor que o escritor tinha por elas é que emociona o leitor rosiano
                                           Por Joana Monteleone

       As palavras se enroscavam, davam nós e voltas, subiam pelas trepadeiras e se arrastavam nos arbustos baixos do sertão sempre seco. Foram elas, perigosas e mudas, que encantaram o médico mineiro, nascido em 1908, João Guimarães Rosa. Em 1946, com 38 anos e um posto de embaixador que lhe permitiu viajar pelo mundo, publicava seu primeiro livro: "Sagarana". Dez anos depois, dois romances: Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. O Caderno de Sábado inicia, agora que Sagarana completa 50 anos e Grande Sertão: Veredas 40, uma série de artigos e reportagens sobre o escritor.
        Nesta edição a professora Maria Neuma Cavalcante escreve sobre o acervo Guimarães Rosa que está no Instituto de Estudos Brasileiros  (IEB), na Universidade de São Paulo (USP). O acervo é um dos meios mais importantes para se conhecer a obra do escritor. 
Neles estão cartas para tradutores, diários de viagem, manuscritos de obras e contos inéditos que foram excluídos por Guimarães Rosa de alguns de seus livros.
         Nos seus livros é o amor pelas palavras que emociona o leitor. Guimarães sabia muitas línguas, desde os sete anos lia romances em francês, e pouco antes de morrer 1967, três depois de ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), estava estudando vietnamita. A paixão vocabular se transformou em criação. Inventar palavras e expressões era, para o menino de Cordisburgo, em Minas Gerais, que começou a ver o mundo nublado de miopia, em busca incessante.
                                                        continua na próxima postagem.....

Texto extraído do Caderno de Sábado - "Jornal da Tarde" -
Jornal da Tarde pertencia ao " O ESTADO DE SÃO PAULO"
Data: Sábado - 6 -1 - 96
 

sexta-feira, 6 de março de 2015

A S P I R A Ç Õ E S

                                                 

                                                          ASPIRAÇÕES
                                               (Francisca Júlia)

FRANCISCA JÚLIA DA SILVA MUNSTER - ( 1874 - 1920 ) - Nasceu em Xiririca, São Paulo. Poetisa parnasiana. Foi famosíssima na época em que viveu. Bilac elogiava-lhe a língua, o Português "remoçado por um banho, maravilhoso de novidade e frescura". Hoje está quase esquecida. Conta-se que faleceu de colapso aos se despedir de Munster, inclinando-se ante o cadáver dele para não mais se levantar, tal o seu amor ao finado esposo. OBRAS: Mármores que, em edição ampliada, recebeu o nome de Esfingens.
 
                                                       Se o sol de inverno eu fosse,
                                                       amoroso e macio,
                                                       aqueceria, com o meu raio doce,
                                                       as criancinhas que tivessem frio.
 
                                                                     Se fosse a brisa que erra
                                                                     solta, cheirosa e pura,
                                                                     levaria s correr, de terra em terra,
                                                                     aromas e candura.
 
                                                       Se fosse a flor, que cresce
                                                       com tão lindo recato
                                                       gostaria que um crente me colhesse
                                                       para me pôr no altar como um ornato.
 
                                                                    Se fosse astro ou estrela,
                                                                    que brilha no céu puro,
                                                                    daria direção à branca vela
                                                                    que vai incerta pelo mar escuro.
 
                                                        Se nuvem fosse
                                                        aos que têm sede e mágoas
                                                        dar a imensa alegria
                                                        das minhas águas.
 
                                                                     Tanto desejo cesse,
                                                                     que não osso sequer
                                                                     pagar a minha mães, como merece,
                                                                     todo o infinito bem que ela me quer.
                                                                                         pags. 73-74
 
 
Extraído do livro: Livro e Literatura Brasileira
Volume I
Língua Portuguesa
Floriano Tescarolo
Gilio Giacomozzi
Editora F.T.D. S/A.
São Paulo